Quando a língua nos une — ou nos destrói

Estava sentada em uma cozinha aconchegante ao lado da minha mentora e amiga de longa data, com uma xícara de café fumegante. Nossas Bíblias e livros de estudo estavam abertos, e minha caneta voava freneticamente enquanto fazíamos planos para liderar um pequeno grupo de mulheres em um estudo do livro de Tiago. Senti-me desafiada e honrada quando ela me convidou para ensinar com ela. Confesso que, como uma entusiasta de carteirinha e uma amante de café, aquele estava sendo um dia de imensa felicidade — até chegarmos ao capítulo 3 de Tiago.

Ouvi minha querida amiga mais velha dizer: “Eu vou conduzir os dois primeiros capítulos, mas acho que você deveria ensinar este”, justamente quando eu estava lendo Tiago 3.1: “Meus irmãos, não sejam, muitos de vocês, mestres, sabendo que seremos julgados com mais rigor”.

Arregalei os olhos, me virei para ela e disse: “Nem pensar”.

Eu estava meio brincando e meio falando sério. Era justamente por essa parte que ela queria que eu começasse? Logo na minha estréia liderando um estudo bíblico, ela escolhe me passar a responsabilidade nesse trecho?

Na verdade, foi genial. Já se passaram nove anos, e o Senhor continua trazendo à minha memória aquele momento, que foi uma profunda lição de humildade. Por mais confortável e entusiasmada que eu estivesse naquele dia, quando a minha mentora fez a sugestão, a Palavra de Deus me segurou firme pelas rédeas. Em meio à empolgação e ao desafio, tive um lembrete claro e objetivo da responsabilidade de manejar corretamente a Palavra de Deus como professora.

Mas sabe de uma coisa? Essa passagem tem ainda mais a nos ensinar, e essas palavras são para todos nós.

Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, é um indivíduo perfeito, capaz de refrear também todo o corpo. (Tiago 3.2)

Então, embora o capítulo comece com uma advertência aos professores em potencial, ele logo nos coloca no mesmo barco com uma verdade impactante. Todos nós tropeçamos de muitas maneiras, e nenhum de nós é perfeito. Sou grata por ter companhia ao enfrentar as realidades de viver com a nossa carne pecaminosa!

Assim como me sinto humildemente refreada como professora por Tiago 3.1, Tiago descreve nos versículos seguintes que todos — e ele deixa  claro que está falando de todos mesmo — precisamos aprender a refrear as nossas línguas.

As palavras que falamos podem ter o poder de encorajar, sustentar, fortalecer, ensinar, revelar a verdade e demonstrar amor; mas as nossas línguas também podem vangloriar-se, amaldiçoar, diminuir, ignorar, ferir, mentir, controlar, irritar, provocar, enfurecer e decepcionar. As consequências desse tipo de palavras podem ser desastrosas. Devastadoras. Até mesmo fatais. As palavras egoístas, destrutivas e até odiosas que pronunciamos desonram aqueles que carregam a imagem de Deus. Você percebe isso em Tiago 3.9? “Com ela (a língua), bendizemos o Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos as pessoas, criadas à semelhança de Deus”.

A chance de palavras que falamos movidas pelos nossos próprios desejos e perspectivas carnais estarem sob controle são praticamente nulas. Elas têm pouca chance de realmente honrar alguém, de serem verdadeiramente úteis ou consistentes. Mas o que nos dá grande esperança como cristãos é que não precisamos deixar que a carne esteja no comando. Quando fixamos a mente nas coisas do Espírito (Rm 8.5–6), viveremos — e falaremos — segundo o Espírito (Mt 5.2–11Gl 5.22–23).

Certamente, os exemplos e as advertências que Tiago apresenta no capítulo 3 sobre o poder e as realidades da nossa língua são verdadeiros. Mas é igualmente verdadeira a esperança que temos ao submetermos a nossa vontade e palavras ao Senhor, permitindo que o Espírito Santo seja a fonte e o guia das nossas palavras.

Eu vou falhar. Você também vai. Nossa carne egocêntrica precisa ser refreada, e nenhuma forma de contenção humana será suficiente para atingir esse objetivo. Mas, assim como o Senhor disse a Paulo em 2 Coríntios 12.9: “A minha graça te basta”, a graça de Deus é suficiente para domar as nossas línguas. Seu poder pode se aperfeiçoar em nossa fraqueza, em todas as áreas da nossa vida, inclusive nas palavras que falamos. O nosso papel é fixar as nossas mentes nas coisas do Espírito, enchê-las da Palavra de Deus e pedir ao Senhor que crie em nós um coração semelhante ao Seu.

A pessoa boa tira o bem do bom tesouro do coração, e a pessoa má tira o mal do mau tesouro; porque a boca fala do que está cheio o coração. (Lucas 6.45)

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Sobre o Autor

Heidi Jo Fulk

Heidi Jo Fulk deseja conhecer e viver a Palavra de Deus e, então, ensiná-la a outras mulheres e desafiá-las a fazer o mesmo. Heidi e seu marido, Dan, vivem no Michigan com seus quatro filhos, onde ela também lidera o ministério de mulheres de sua igreja.