
Dia 1: O seu corpo é bom
Raquel: De acordo com a autora Nancy Pearcey, você e eu precisamos ter a atitude certa sobre nosso corpo físico.
Nancy Pearcey: Seu corpo é perfeito. Ele foi criado por Deus de forma intencional. Deus fez você quem você é, e você deve respeitar seu corpo, viver em harmonia com seu corpo, viver em coerência com seu sexo biológico. Honre o corpo que Deus lhe deu.
Raquel: Este é o Aviva Nossos Corações. Nossa apresentadora é a autora de Mulheres atraentes adornadas por Cristo, Nancy DeMoss Wolgemuth, na voz de Renata Santos.
Nancy DeMoss Wolgemuth: Não precisamos ir muito longe para perceber que as pessoas estão confusas — e até enganadas — quando se trata de algumas verdades básicas — coisas como “o que significa ser homem ou mulher?” e “o que fazer se você não gosta de como Deus te fez?”
Felizmente, …
Raquel: De acordo com a autora Nancy Pearcey, você e eu precisamos ter a atitude certa sobre nosso corpo físico.
Nancy Pearcey: Seu corpo é perfeito. Ele foi criado por Deus de forma intencional. Deus fez você quem você é, e você deve respeitar seu corpo, viver em harmonia com seu corpo, viver em coerência com seu sexo biológico. Honre o corpo que Deus lhe deu.
Raquel: Este é o Aviva Nossos Corações. Nossa apresentadora é a autora de Mulheres atraentes adornadas por Cristo, Nancy DeMoss Wolgemuth, na voz de Renata Santos.
Nancy DeMoss Wolgemuth: Não precisamos ir muito longe para perceber que as pessoas estão confusas — e até enganadas — quando se trata de algumas verdades básicas — coisas como “o que significa ser homem ou mulher?” e “o que fazer se você não gosta de como Deus te fez?”
Felizmente, a Palavra de Deus sobre esse tópico é clara, como vamos ouvir agora. Aqui está Dannah Gresh para apresentar a nossa convidada de hoje, neste bate papo super informativo.
Raquel: Você já se sentiu envergonhada do seu corpo ou talvez tenha lutado com dietas ioiô ou até mesmo praticado autolesões? Nossa convidada de hoje nos ajudará a lidar com a falta de amor pelo nosso corpo, e também nos dará uma visão além dos nossos problemas pessoais.
Vamos equipá-la para conversar sobre alguns dos tópicos mais difíceis da atualidade, como: transexualidade, aborto e homossexualidade. Nossa convidada de hoje afirma que essas experiências complexas e muitas vezes dolorosas têm, na verdade, a mesma raiz: a falta de amor pelo corpo, algo que você pode sentir quando se olha no espelho.
Nossa convidada de hoje e amanhã é Nancy Pearcey nesta série curtinha de apenas dois episódios chamada “Ame o seu corpo”. Alguns anos atrás, Nancy DeMoss Wolgemuth e eu descobrimos que estávamos lendo o livro dela ao mesmo tempo. Em seu livro, Ama teu corpo, Nancy responde a perguntas difíceis sobre vida e sexualidade.
Nancy é professora acadêmica titular na Universidade Batista de Houston. Seu pensamento brilhante a coloca em plataformas como as revistas The New Yorker e Newsweek. Hoje, vamos nos beneficiar disso, integrando as Escrituras na conversa.
Nancy, seja bem-vinda ao Aviva Nossos Corações!
Nancy Pearcey: Muito obrigada; estou feliz em estar aqui!
Raquel: Estou super animada com este bate-papo porque já ouvi algumas de suas entrevistas. Quando termino de ouvi-las, me sinto mais preparada para ter essas conversas difíceis! Estou animada em compartilhar esse presente com minhas irmãs que estão ouvindo o Aviva Nossos Corações hoje.
Gostaria de começar com algo sensível. Já escrevi muito sobre pureza, sobre modéstia. Tento escrever isso de um ponto de vista que seja amável, respeitoso e atraente, mas muitas pessoas hoje afirmam que a visão negativa do corpo na cultura ocidental é um produto do cristianismo, de autores e professores como eu.
“Muito ensino sobre pureza, muito ensino sobre modéstia ou pecado, resultaram em vergonha. . . e agora odiamos nossos corpos!” Será que esta foi a origem? Qual seria a sua resposta a isso?
Nancy Pearcey: Bem, acho que isso é um mal-entendido sobre o cristianismo. Embora seja muito comum pensar que os cristãos têm uma visão inferior do corpo e que nossa visão sobre pureza sexual, por exemplo, vem da rejeição do corpo.
Veja como uma das minhas alunas expressou isso. Ela disse: “Crescendo na igreja, sempre me ensinaram: ‘Corpo ruim, espírito bom’”. Quando uso isso com audiências cristãs, sempre vejo muitas pessoas balançando a cabeça, como se dissessem, “É isso mesmo!”
Mas isso é, na verdade, um mal-entendido do cristianismo, e podemos perceber isso especialmente quando pensamos na igreja primitiva. A igreja primitiva não enfrentou uma cultura secular, mas uma cultura pagã que denegria o corpo e o mundo material.
Portanto, como você sabe, Dannah, a partir da sua leitura da Bíblia, muitos dos livros do Novo Testamento foram escritos contra cosmovisões como o gnosticismo, o platonismo e o maniqueísmo. O ponto é que todos esses “ismos” tratavam o mundo material como o reino da morte, decadência e destruição, onde o objetivo da salvação era escapar do mundo material.
Na verdade, o gnosticismo até ensinava que havia vários níveis de “deuses” — de divindades — e era um deus de nível inferior que havia criado este mundo. Era, na verdade, um deus maligno, porque este mundo é ruim e, portanto, só pode ter sido criado por um deus maligno.
Nesse contexto histórico, o cristianismo foi nada menos que revolucionário, porque os cristãos disseram: “Não, este mundo é bom! Não foi criado por um deus maligno, foi criado por um Deus bom — o Deus de mais alto nível, a Divindade Suprema, e por isso é intrinsecamente bom!”
Além disso, o cristianismo também ensinava — e esse foi o maior escândalo, aliás, no primeiro século — que esse mesmo Deus entrou no mundo material, certo? Essa foi a Encarnação. Jesus assumiu um corpo físico, portanto a Encarnação é a maior afirmação da dignidade e do valor do corpo humano.
E quando Jesus foi executado na cruz romana, poderíamos dizer que Ele escapou do mundo material, como o gnosticismo ensinava que deveríamos aspirar a fazer, mas o que Ele fez então? Ele voltou! Para os antigos gregos daquela época, isso não era progresso espiritual!
Raquel: Sim, Ele voltou em um corpo físico. O corpo físico dele foi ressuscitado.
Nancy Pearcey: Em um corpo físico, exatamente! E é por isso que Paulo diz em 1 Coríntios 1.23: o conceito da ressurreição física era uma loucura para os gregos. Eles achavam isso completamente ridículo! E, claro, no final dos tempos, o que Deus vai fazer? Muitas vezes pensamos que vamos para o céu e seremos espíritos. Não! O objetivo final é os Novos Céus e a Nova Terra, e seremos ressuscitados em corpos físicos.
Eu estava conversando com uma pessoa não cristã não muito tempo atrás. Ela tinha um histórico cristão. Eu disse: “Olha, o Credo dos Apóstolos sempre foi, desde o começo, uma promessa de ressurreição do corpo. Os cristãos afirmam o valor do corpo!”
E minha amiga secular disse: “Eita! Eu aprendi o Credo dos Apóstolos quando era criança, e nunca percebi, realmente, o que isso significava”.
O que isso significa é que o cristianismo oferece uma base positiva para uma visão elevada do corpo. E o que precisamos fazer como cristãos é recuperar nossa própria herança.
Raquel: Sim, muitas Escrituras estão vindo à minha mente. Quando eu tinha por volta dos vinte e poucos anos, eu tive uma grande descoberta pessoal, lendo Efésios 1. Nesse trecho, diz que Deus está trabalhando — até chegar a plenitude do tempo. Fará convergir nele [Cristo] todas as coisas, tanto as do céu como as da terra (v. 10).
E essa heresia dos nossos tempos é, na verdade, o que sua aluna estava dizendo, “Corpo ruim, espírito bom”. Quando dividimos o secular e o sagrado, estamos indo na direção oposta à que Deus está indo, que é trazer esses corpos físicos a um ponto onde eles estejam novamente em unidade com a maneira como Ele nos criou espiritualmente. E quando pensamos, corpo ruim, não estamos tendo essa mentalidade, estamos?
Nancy Pearcey: Isso mesmo! Um dos temas — talvez o tema principal — do meu livro Ama teu corpo é que os cristãos precisam recuperar a linguagem do valor do corpo.
Vou contar uma parte. Uma das histórias no livro é de um jovem chamado Sean Dougherty, e ele foi exclusivamente homossexual desde muito jovem. O interessante sobre sua história é que ele foi criado em uma “família que apoia o gay” e frequentou uma “igreja que apoia o gay”, portanto ele não achava que havia nada de errado com isso.
Mas hoje ele é casado e tem filhos, e, aliás, ele é professor de ética cristã em Londres. Você pode pensar, “Bem, se ele não foi movido pela vergonha ou culpa…” que é o que a maioria das pessoas pensa, certo? “Se ele deixou a homossexualidade para trás, ah, era só vergonha, culpa e autoaversão.” Isso é o que os críticos dirão.
Mas ele disse: “Não, foi descobrir o valor do corpo!” Ele disse (e aqui está como ele colocou):
Eu percebi que não estava tentando mudar meus sentimentos diretamente, porque isso raramente funciona. Mas o que eu fiz foi dizer, “Olha, Deus me deu um corpo — um corpo masculino — claramente, eu fui criado para interagir sexualmente com uma mulher”.
Eu passei a aceitar meu corpo como um bom presente de Deus, e eu queria viver de acordo com ele. Eventualmente meus sentimentos começaram a me acompanhar.
Portanto, vemos que o “X” da questão é o tipo de cosmovisão: os nossos corpos são produtos de forças materiais sem mente — como o naturalismo ou materialismo nos diria? Ou os nossos corpos são criações intencionais de um Deus amoroso e, portanto, intrinsecamente bons?
Nossos argumentos contra questões como a homossexualidade não são puramente negativos. Não é apenas “É errado. É contra a Bíblia. Pare de fazer isso! E há algo de errado com você!” Essa é a mensagem que as pessoas costumam entender.
Não, a mensagem deve ser: “Seu corpo é bom. Ele foi criado por Deus de forma intencional! Deus fez você quem você é, e você deve respeitar seu corpo, viver em harmonia com seu corpo, viver em coerência com seu sexo biológico e honrar o corpo que Deus lhe deu”. Essa linguagem de honra e respeito pelo corpo é a linguagem que os cristãos precisam dominar se quiserem se comunicar de forma eficaz.
Raquel: Ok, deixe-me fazer uma pergunta do tipo advogada do diabo, “Eu não posso honrar a Deus com meu corpo e ainda ser biologicamente mulher e decidir, ‘Ah, acho que gostaria de ser homem’”. Por que importa que eu aceite o gênero que Deus me deu?”
Nancy Pearcey: Bem, podemos começar ouvindo os ativistas transgêneros. Eles mesmos dizem: “O corpo não tem nada a ver com quem eu sou. Meu corpo não faz parte do meu eu autêntico”.
A BBC Social publicou um vídeo. Destaca uma jovem adolescente que é claramente uma menina, mas ela se identifica como não binária e disse o seguinte, esta é uma citação direta: “Não importa em que esqueleto de carne você nasceu; são os seus sentimentos que definem você”. E, com isso, seu corpo foi rebaixado a um “esqueleto de carne.”
Há outro documentário da BBC chamado Crianças transgêneras. Ele disse que o cerne do debate é a ideia de que sua mente pode estar em guerra com seu corpo — em guerra com seu corpo — e, claro, nessa guerra, é a mente que vence.
Havia uma página no Kickstarter (uma plataforma pública nos Estados Unidos) iniciada por uma mulher transexual. O objetivo era arrecadar dinheiro para um documentário, e o título era Eu não sou meu corpo. Esse título resume bem a ideia. Basicamente, se você ouvir os ativistas seculares a favor de transgêneros, o que eles estão dizendo é: “Seu corpo não importa; ele não faz parte do seu eu autêntico”.
Na verdade, Dannah, eu preciso ler literatura acadêmica, certo? Porque é o que os intelectuais dizem que eventualmente chega às discussões mais comuns. Então eu li um livro, acho que o primeiro livro que defende os transgêneros em um nível acadêmico, de uma professora da Universidade de Princeton.
E para minha grande surpresa, ela disse que o ser transgênero envolve desconexão e autoalienação. Veja como ela disse: “Seu corpo físico não te diz nada. Ele é sem sentido”. Essencialmente, essa é a mensagem que está chegando aos jovens e adolescentes.
Os jovens e adolescentes estão recebendo a seguinte mensagem: “Seu corpo não importa! Ele não te diz nada. Ele não dá nenhuma pista sobre a sua identidade”. Bem, se as crianças são ensinadas que seus corpos não têm sentido, sendo uma parte fundamental de quem elas são, não é de se surpreender que elas se achem sem sentido, e que suas vidas são sem sentido!
Os ativistas transgêneros dizem: “Se você não ajudar seu filho a fazer a transição, ele vai se suicidar”. Foi feito um estudo pela Heritage Foundation. Eles decidiram: “Bem, como comprovar esta afirmação?” Eles fizeram uma pesquisa sobre os estados que tinham leis permitindo que crianças fizessem transição sem consentimento dos pais, em comparação com os estados que não permitiam.
E descobriram que os estados que permitem que as crianças tomem bloqueadores de puberdade, hormônios cruzados e façam cirurgias sem consentimento dos pais tinham taxas de suicídio 14% mais altas entre adolescentes. Vemos que a mensagem de que “seu corpo não tem sentido” tem consequências reais!
As crianças acham que estão sendo ensinadas: “Você não tem sentido”. São apenas seus sentimentos transcendentes. . . Como sabemos, nossos sentimentos são enganosos. Se basearmos nossa vida em sentimentos, ela será muito instável, muito frágil.
Raquel: Sim, estou escutando tudo isso e pensando sobre o contraste que a Bíblia apresenta. Ela atribui grande valor ao corpo quando Paulo escreve em 1 Coríntios 6.19–20: “Será que vocês não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo, que está em vocês e que vocês receberam de Deus, e que vocês não pertencem a vocês mesmos?” Deus escolheu habitar em nós. Somos Sua morada! “Porque vocês foram comprados por preço. Agora, pois, glorifiquem a Deus [onde?] no corpo de vocês” (v. 20)
Aqui novamente vemos a união do valor do corpo e do espírito. É disso que a mensagem cristã trata — o valor dos nossos corpos.
Nancy Pearcey: Sim, você nunca mais vai ler esses versículos da mesma forma: “ofereçam o seu corpo como sacrifício vivo”. (Rm 12.1). Esses versículos vão saltar aos seus olhos como nunca! As Escrituras ensinam que somos uma unidade integrada, somos espíritos encarnados. Ambos fazem parte da nossa identidade.
Isso fica bem claro através do paralelismo da poesia hebraica. Vou dar alguns exemplos de vários salmos; tenho certeza você vai reconhecê-los. “A minha alma tem sede de Ti, meu corpo Te almeja” (Sl 63.1). “Nossa alma está abatida até o pó, e o nosso corpo está como que pegado no chão” (Sl 44.25).
Nesses salmos, as Escrituras estão dizendo, essencialmente, que o que nossa alma sente é expresso em nosso corpo. E quanto a este versículo: “Guarde [as minhas palavras] no mais íntimo do seu coração. Porque são vida para quem os encontra e saúde para todo o seu corpo” (Pv 4.21-22). O último que tenho é: “Enquanto calei os meus pecados [ou seja, quando me recusei a me arrepender], envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia” (Sl 32.3).
A Bíblia trata o ser humano como um ciclo de unidade física. A vida interior da alma é expressa pela vida exterior do corpo. Não há dicotomia, não há divisão entre eles.
Vou te contar mais uma história, essa é uma das minhas favoritas também. Uma jovem chamada Jean que viveu como lésbica por muitos anos, e hoje está casada e tem dois filhos. Ela escreveu um artigo sobre isso e ela disse (novamente, uma citação direta, essas são as palavras dela):
Eu passei a aceitar que Deus me fez mulher por um motivo, e eu queria honrar meu corpo vivendo em conformidade com o design do Criador.
Quando eu falo para audiências cristãs — falo muito em conferências, escolas e universidades — essa é a coisa mais difícil para as pessoas entenderem.
Elas estão tão acostumadas com a ideia de que, como cristãos, temos uma mensagem primariamente negativa: “Você é um pecador. Precisa ser salvo!” — o que é verdade, mas temos que começar com Gênesis 1, que diz: “Você foi criada à imagem de Deus, e tem grande valor e dignidade!”
Eu quase tenho que treinar as pessoas para praticarem essas frases!
- Honrar meu corpo vivendo de acordo com o design do Criador
- Respeitar o sexo biológico
- Viver em congruência com quem Deus me fez para ser
Se a nossa mensagem for positiva assim, ela terá muito mais peso e, claro, falará especialmente com os jovens.
Raquel: Você se refere a Gênesis 1 — fomos criados à imagem de Deus. Isso é realmente algo que nos deixa sem palavras, que de alguma forma Deus nos criou de tal maneira que nos parecemos com Ele, refletimos Ele, somos feitas à Sua semelhança.
É impressionante para mim que, nesse mesmo versículo, Gênesis 1.27, “Assim Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Há tantas coisas em nós que realmente são semelhantes a Deus em contraste com o resto da Criação: nossa capacidade de procriar, nossa capacidade de compor sonetos, sermos criativos. Temos razão, intelecto e dons de conexão que outras partes da criação de Deus não possuem.
Por que, então, a masculinidade e a feminilidade foram as únicas coisas que Deus escolheu para dizer: “Isso é parte do que faz você ser à Minha imagem”?
Nancy Pearcey: Deixe-me responder a isso com uma história sobre um argumento que achei surpreendentemente eficaz tanto com cristãos quanto com não cristãos. Eu desenvolvi isso primeiro com não cristãos que são muito voltados para o ambientalismo. Eu os ajudo a ver que é realmente a mesma questão. Eles dizem: "O que o ambientalismo tem a ver com sexualidade?"
Aqui está a conexão: o movimento ambientalista nos ensinou que, para evitar a poluição e desastres ecológicos, precisamos respeitar a estrutura da natureza. Isso não significa que não podemos intervir, mas quando o fazemos, precisamos trabalhar com a ordem natural e não contra ela.
E o que os cristãos estão dizendo é que, nesses problemas morais também, queremos respeitar a estrutura natural de nossos corpos; não queremos violar a estrutura natural. Afinal, nossos corpos são parte da natureza, e devemos respeitar nossos corpos pelo menos tanto quanto respeitamos esta árvore do lado de fora da minha janela ou o rio, e não despejamos resíduos tóxicos nele.
Nosso argumento é: “Devemos respeitar nossos corpos como a obra do Criador e viver em harmonia com nossos corpos, viver em congruência com quem Deus nos fez para ser”.
Raquel: Lembro de uma conversa que tive com uma amiga que veio tomar café da manhã na minha casa. Essa amiga tem um pensamento bem liberal e sempre reflete bastante sobre questões ambientais, e luta em prol de questões de sexualidade e identidade.
Quando trouxe os ovos, essa amiga me disse: “Ah, eu não como ovos. Eu não faria isso com as galinhas!”
Eu disse: “Bem, eu não tenho um galo na minha fazenda, então eles não são fertilizados”. E, na conversa, eventualmente eu disse: “Mas tudo bem abortar um bebê?” Isso não é lógico, né?
Nancy Pearcey: Não, não é! Esse é um bom ponto! De alguma forma, o aborto segue a mesma lógica. O que a maioria das pessoas não percebe é que, se você ler ou conversar com bioeticistas seculares, eles também argumentam a favor do aborto com base na ideia de que o corpo não tem valor. Veja como eles argumentam: eles dizem, “Sim, o feto é humano”. Você percebe que, hoje, nenhum bioeticista secular nega que o feto é humano? A evidência do DNA, da genética, da ciência é forte demais para ser negada.
Então eles dizem: “Sim, o feto é biologicamente humano, geneticamente, fisiologicamente, cromossomicamente, o feto é humano”. Como eles contornam isso, então, para apoiar o aborto? O que eles dizem é: “Bem, é humano, mas ainda não é uma pessoa”.
E eles definem a personalidade em termos de alguma capacidade mental, algum tipo de autoconhecimento, função cognitiva, e assim por diante. E o que eles estão realmente dizendo? Estão dizendo: “Enquanto você for humano, você não conta!”
O feto pode ser abortado por qualquer motivo — ou nenhum motivo. Pode ser usado para experiências científicas, pode ser manipulado geneticamente, pode ser “repartido” para obtenção de partes que podem ser comercializadas — como a organização “em prol do planejamento familiar” faz — e depois jogado fora como qualquer resíduo médico — que é exatamente como os jornais médicos se referem a ele: “resíduo médico”.
Essencialmente, o que estão dizendo é: “Embora o feto seja humano, ele não tem direitos humanos. Não tem status moral. Não merece proteção legal”. Basicamente, estão dizendo: “Ser humano não é mais uma base para os direitos humanos”. Eles jogaram completamente fora a noção de direitos humanos.
E, essencialmente, a razão pela qual sua amiga pode ser a favor do aborto é porque o raciocínio é: “Mesmo que o feto seja humano, ele é apenas um corpo”. A propósito, essa é uma das maneiras como os bioeticistas às vezes chamam isso. Eles dizem: “É apenas um corpo. E até que ele se torne uma pessoa, não lhe damos nenhuma proteção legal”.
Percebe como a lógica dos argumentos a favor do aborto está, mais uma vez, desvalorizando o corpo? Os cristãos ainda não entenderam completamente a forma do argumento hoje. Foi por isso que escrevi o livro Ama teu corpo, para ajudar os cristãos a perceberem que todas essas questões — do aborto à homossexualidade, passando pelo transexualismo, eutanásia — estão baseadas numa visão do corpo.
Isso pode ser muito útil para nós ao falarmos com nossos amigos não cristãos ou amigos cristãos mais liberais, porque temos a tendência de tentar encontrar bons argumentos para cada uma dessas questões de forma independente: “Vamos arranjar argumentos para essa questão, outros para aquela”, e “como falamos sobre aquela questão?”
Bem, acontece que todas elas têm uma cosmovisão subjacente comum. Se você entender essa cosmovisão, estará preparado para falar sobre todas elas, e é muito mais fácil. Sua tarefa será muito mais fácil porque você poderá abordar a cosmovisão subjacente que conecta todas elas.
Raquel: Eu amo que você esteja nos convidando a abraçar a ideia de amar o próprio corpo, porque isso realmente nos tira de alguns espaços onde a linguagem se tornou tão volátil, explosiva. Definições foram mudadas e, para falar a verdade, batalhas são travadas e vencidas com base nas palavras.
E você não ouve a palavra “corpo” necessariamente nas conversas sobre essas questões, embora haja esses subentendidos acontecendo. Se pudermos apenas mudar a conversa para dizer: “Ei, deixa eu te perguntar. . . Não vamos falar apenas sobre pronomes, ou sobre os direitos dos pais para crianças que estão se submetendo à transição nas escolas públicas. Vamos falar sobre algo diferente. O que você acha sobre o valor do seu corpo?” Mudar a direção da conversa, certo? Isso é o que você está nos convidando a fazer.
Nancy Pearcey: Sim, eu amo! Eu amo a maneira como você colocou isso. Isso é ótimo. Deixe-me dar um exemplo. Havia um site super mundano e liberal, e li uma entrevista com uma menina de quatorze anos que havia feito a transição para o sexo masculino aos onze anos, viveu como um menino trans por três anos, e depois recuperou sua identidade de menina.
E foi assim que ela colocou, novamente, citação direta. Ela disse: “O ponto de virada aconteceu quando percebi que aprender a amar meu próprio corpo não é terapia de conversão”. E eu pensei, “uau, da boca das crianças”! Ela tem apenas quatorze anos e já percebe que a questão aqui é se você ama seu corpo.
Isso não veio de um site cristão, mas de um muito secular, muito liberal. O que isso mostra é que até as pessoas seculares estão começando a perceber que a questão chave aqui é o seu corpo. Vemos pessoas seculares dizendo agora: “A agenda transgênero representa ódio ao corpo”. As pessoas estão percebendo isso.
Sim, como cristãos, precisamos nos atualizar sobre onde o debate realmente está. O debate agora é: “Reconhecemos nossos corpos como valiosos?” E isso é muito prático devido a algumas das questões muito pessoais que temos, “Como lidamos com nossos próprios filhos, ou nossos vizinhos, os colegas de classe de nossos filhos, as pessoas em nossas igrejas ou escolas cristãs?”
Uma boa forma de abordagem, eu diria, é o que você acabou de dizer, que é: “Vamos falar sobre o valor do seu corpo”. Queremos transmitir que amamos, respeitamos e valorizamos você e seu corpo. No meu livro Ama teu corpo, eu falo sobre um jovem que teve disforia de gênero desde muito jovem.
E a verdadeira disforia de gênero, aliás, costuma começar em uma idade muito jovem. Hoje em dia, temos muitas meninas se assumindo como o sexo oposto na adolescência, mas a disforia de gênero tem sido tradicionalmente algo que começa bem cedo.
Então esse menino, que eu chamo de Marcos (não é o nome real dele), antes de aprender a andar, as pessoas já percebiam que havia algo diferente nele! A babá disse à mãe dele: “Ele é bom demais para ser um menino!” O que ela queria dizer é que ele era doce, gentil, obediente e quieto — coisas que normalmente associamos mais às meninas.
Quando estava na pré-escola, todos os dias, quando a mãe o pegava, ele estava brincando com as meninas, e não com os meninos. E já na escola primária ele vinha aos pais chorando — repetidamente — dizendo: “Eu não me encaixo em lugar nenhum! Eu não me sinto um menino, mas é claro que as meninas também não me aceitam de verdade!”
E deixe-me ver se consigo lembrar as palavras exatas dele. Ele disse para a mãe dele: “Eu me interesso pelas coisas das meninas. Eu gosto do que as meninas fazem. Deus deveria ter me feito uma menina!” E é claro que isso foi muito doloroso tanto para ele quanto para seus pais.
Quando ele se tornou um adolescente, ele estava pesquisando a internet em busca de informações sobre cirurgia de mudança de sexo. E o que os pais dele fizeram? Em primeiro lugar, deixaram claro que o amavam exatamente como ele era. Eles não tentaram mudá-lo.
Quando eu estava no seminário, tive um amigo que tinha sido homossexual. Ele disse: “Quando eu era jovem, gostava de música e poesia. Meu pai ficou chocado e tentou de tudo para me fazer ficar macho, me forçando a atividades mais masculinas, como esportes”.
Os pais de Marcos não fizeram isso. Eles disseram a ele: “Está perfeitamente bem ser um menino gentil, emocional, sensível, e relacional. Isso não significa que você seja realmente uma menina”. E eles o guiaram por meio dos dons do Espírito.
Eles disseram: “Olha, os dons do Espírito não são divididos por sexo. Não é como se o ensino e a profecia fossem dons dados somente para os homens, como se fossem dons masculinos, e a misericórdia e o serviço fossem femininos. O fruto do Espírito não é dividido por sexo. A grande maioria dos mandamentos nas Escrituras não é dividida por sexo”.
Eles até o levaram a fazer testes de personalidade, como o Myers-Briggs. Isso mostra que tanto homens quanto mulheres podem estar em qualquer ponto do espectro. Homens podem ser sensíveis e gentis, e uma menina obviamente pode ser mais extrovertida, racional, tomar decisões e ser assertiva. Não devemos impor estereótipos às crianças em relação ao gênero.
Foi um longo e doloroso processo. Foi até os vinte e poucos anos de Marcos que ele realmente aceitou sua identidade como homem e se reconciliou com seu sexo verdadeiro. O que precisamos fazer com os jovens que se aproximam de nós é responder da maneira como os pais de Marcos responderam, dizendo: “Nós te amamos exatamente como você é. Está tudo bem ser como você é”.
Você sabe o que Marcos me disse? Ele disse que os lugares mais difíceis são os círculos cristãos, como igrejas e grupos de jovens. Ele disse que isso acontece porque os cristãos estão tão preocupados em se opor à cultura secular que quase enfatizam demais os estereótipos masculinos e femininos.
A literatura acadêmica sobre isso — não vou citar porque é uma linguagem acadêmica. Mas os estudos descobriram que a correlação mais confiável de orientação não-heterossexual (seja orientação sexual ou identidade de gênero) é o comportamento não conformista em relação ao gênero na infância. Em outras palavras, crianças que agem mais como o sexo oposto.
E isso é uma boa informação para os cristãos, porque o que isso significa é que devemos alcançar essas crianças. Devemos alcançar especialmente os jovens que são não conformistas em relação ao gênero, que não se encaixam necessariamente nos estereótipos. A linha favorita dos pais de Marcos, a que eles mais usaram, foi: “Não é você que está errado. São os estereótipos que estão errados”.
Raquel: Humm, isso é muito bom.
Nancy Pearcey: Quando falo para audiências cristãs, digo: “Veja, se você está em uma escola cristã ou igreja, procure alcançar as crianças que são não conformistas em relação ao gênero, porque elas estão sob uma pressão enorme hoje em dia! Perceba que elas serão alvo de ativistas de gênero”.
Eu ouvi de vários pais que dizem isso, a propósito, isso não é especulação, pais dizem: “Meu filho não conformista em relação ao gênero está sendo alvo na escola e ouvindo o seguinte: ‘Se você é uma menina mais masculina, bem, você precisa admitir que é um menino’”. Ou, “se você é um menino mais feminino, você precisa admitir que é uma menina”. Elas estão sob uma pressão tremenda hoje em dia!
Raquel: O que você está dizendo é que, se sua filha gosta de caçar com o papai, tudo bem. Se sua filha preferir muito mais usar calças jeans do que saia e se envolver em atividades consideradas mais masculinas, talvez Deus tenha criado ela para fazer algumas dessas coisas. Eu não sei exatamente o que são essas coisas, mas precisamos parar de fazer com que meninos sejam azul e meninas sejam rosa. Isso não está na Bíblia.
Há coisas muito claras nas Escrituras sobre as diferenças distintas entre ser homem e ser mulher — e isso importa muito! Eu acredito que isso importa muito, mas estamos acrescentando coisas quando dizemos que um menino não pode ser um bailarino quando crescer ou que uma menina não pode ser uma caçadora de classe mundial quando crescer. Isso não está nas Escrituras, e precisamos ter muito cuidado com isso!
Nancy Wolgemuth: Ouvimos a coapresentadora do Aviva Nossos Corações, Dannah Gresh, conversando com Nancy Pearcey sobre como podemos valorizar e ser gratas a Deus pelos nossos corpos. . . e como podemos ajudar as crianças a pensar sobre isso e processar essas questões também de forma saudável.
Eu espero que você pare e agradeça hoje pelo seu corpo físico. Sei que isso pode ser difícil para algumas de nós, mas podemos descansar sabendo que Deus sabia exatamente o que estava fazendo quando nos criou.
E mesmo que seu corpo possa estar cronicamente doente ou deformado ou simplesmente não funcione como costumava, você pode descansar sabendo que, se você é filha de Deus, algum dia Ele lhe dará um corpo novinho em folha — um corpo livre dos efeitos do pecado e da maldição. Vai ter valido muito a pena esperar!
Amanhã, Nancy Pearcey e Dannah Gresh continuarão a conversa sobre como podemos ter uma visão correta dos nossos corpos e por que isso é tão importante.
Aguardamos você amanhã, aqui no Aviva Nossos Corações.
Raquel: O Aviva Nossos Corações é o ministério em língua portuguesa do Revive Our Hearts com Nancy DeMoss Wolgemuth, chamando as mulheres à liberdade, à plenitude e à abundância em Cristo.
Clique aqui para o original em inglês.