“Não desanimem.” Essas três palavras foram o grito de encorajamento de Paulo aos seus amigos da igreja primitiva. Embora aquela jovem comunidade estivesse sendo perseguida, o seu mentor os exortou a não se cansarem nem desistirem da corrida do Evangelho para a qual haviam sido chamados — havia muito em jogo. (Veja Gl 6.9; 2Ts 3.13; 2Co 4.1,16.)
Líder de ministério, seu coração está desanimado por causa dos desafios e frustrações que parecem não ter fim? Sua coragem está definhando? Já pensou em desistir do seu chamado? Não perca a missão de vista. Ouça as palavras de Paulo para você: não desanime.
Se parece mais fácil passar o bastão para outra pessoa, convido você a deixar as pressões de lado por um momento e a segurar a mão de uma mulher que venceu obstáculos ministeriais e encontrou esperança para perseverar. Frances Ridley Havergal (1836–1879) foi uma compositora britânica de hinos cristãos, autora de cânticos de devoção como Take My Life and Let It Be (“Consagração”, hino 296 do HCC).
Essa serva perseverante foi muito mais do que uma escritora e poetisa prolífica. Frances era uma cantora talentosa, musicista habilidosa e uma querida professora da Bíblia, que amava a Palavra. O seu testemunho de vida trará novo vigor às suas mãos cansadas e aos seus joelhos vacilantes.
Uma devoção profundamente enraizada
A jovem Frances (“Fanny”) começou a ler a Bíblia aos quatro anos de idade. Com o tempo, ela viria a memorizar grandes porções das Escrituras (os evangelhos e as epístolas do Novo Testamento, os Salmos, Isaías, os profetas menores e Apocalipse). Sua fé não era apenas intelectual, restrita à mente. Sua confiança no Senhor alcançava o seu coração e se manifestava através de suas mãos. Ela era disciplinada em seus devocionais diários e uma aprendiz da Palavra pela vida toda.
Fanny não era apenas dedicada à Bíblia, mas também à oração. Sua mãe percebeu um dom incomum na filha e a ensinou a orar para que Deus a preparasse para o futuro que Ele havia planejado. Suas orações não eram apenas por si mesma; ela mantinha um registro contínuo de cada aluno que ensinava na escola dominical. Fanny — ou Srta. Havergal, como seus alunos a chamavam — dedicava-se a orar fielmente por cada um deles. Só o céu sabe o impacto da intercessão fervorosa dessa mulher.
Provada e aprovada
Frances conheceu o sofrimento desde jovem e enfrentou provações até sua morte, aos quarenta e dois anos. Ela sofria de uma “saúde delicada”, o que lhe trouxe uma batalha contra dores e fraquezas crônicas ao longo de toda sua vida. Aos vinte e três anos, os médicos sugeriram que escrever comprometeria ainda mais seu estado frágil. Recomendaram que ela escolhesse entre escrever ou viver. (Consegue imaginar ouvir que você deve escolher entre o ministério e a própria vida?)
Passaram-se dez anos até que seu primeiro livro, The Ministry of Song, fosse publicado, mas Frances louvava a sabedoria de Deus por essa demora prolongada. Ela acreditava que qualquer pessoa usada por Deus deveria esperar que seus planos fossem perturbados.
Em 1865, quando ela ficou doente demais para escrever por um período, Frances aprendeu a esperar em Deus de mãos abertas. “Sou impedida de fazer muito do que queria de todas as maneiras possíveis,” refletiu ela. “Talvez esse impedimento sirva para que eu consagre o que faço de maneira mais completa. . . As cruzes de Deus são, frequentemente, feitas do material mais estranho e inesperado.”¹
Frances aceitou de bom grado que a vida traz consigo cruzes que Deus destina para um propósito belo. Ela via a interrupção no ministério como um campo de treinamento para se consagrar de forma mais completa em seu serviço. A fé no plano providencial de Deus capacita os servos a suportar as cruzes feitas sob medida para eles.
A providência de Deus ficou excepcionalmente clara quando Frances tentou destruir a letra de um poema que havia escrito, “I Gave My Life for Thee”. Embora tenha lançado as palavras na lareira, o papel não se queimou, e o hino acabou sendo publicado.
Mais tarde, viriam outras provações ardentes: um acidente de escalada que quase lhe tirou a vida, uma batalha de oito meses contra a febre tifóide e um incêndio que destruiu os escritórios de sua editora britânica, levando consigo o manuscrito e as matrizes do seu hinário Songs of Grace and Glory. Embora Frances tenha sido obrigada a recriar as palavras e a música do zero, ela agradeceu a Deus por lhe conceder mais uma lição a ser aprendida.
Uma entrega mais profunda
Frances registrou em seu diário um ponto de virada em sua vida cristã após ler um livreto chamado All For Jesus. Isso a levou a orar por uma consagração e utilidade maior a Deus. A entrega absoluta tornou-se o segredo de sua vitória espiritual.
No domingo do Advento de 1873, Fanny finalmente compreendeu a bem-aventurança da verdadeira consagração.
Vi isso como um clarão de luz elétrica. . . Deve haver entrega total antes que possa haver plena bem-aventurança… Primeiro, me foi mostrado que o sangue de Jesus Cristo nos limpa de todo pecado, e ficou claro para mim que Aquele que me purificou tinha o poder para me manter pura; portanto simplesmente me entreguei por completo a Ele e confiei inteiramente nele para me guardar.²
Após essa entrega absoluta, ela descreveu:
O constante experimentar do fruto do Espírito. Havia um amor inabalável e imutável pelo seu Salvador e pelos outros. Havia a alegria que “elevava toda a vida de Fanny à luz do sol”. . . Havia a paz de Deus que excede todo entendimento, fluindo continuamente, sempre se aprofundando e se ampliando sob o ensino do Espírito Santo de Deus.³
Dois meses depois, quando sua editora nos Estados Unidos faliu, Frances ainda conseguiu cantar: “Seja feita a Tua vontade!” Nada do que Frances havia perdido pôde roubar sua alegria: ela descobriu que Deus é fiel e verdadeiro.
Frances sabia a verdade: “Entregar tudo a Ele é algo indescritivelmente doce, e certamente Ele dispõe todas as coisas muito melhor do que nós jamais poderíamos, quando deixamos tudo em Suas mãos.”⁴ Pouco antes de sua morte, Frances revisou as provas finais de seu último livro, Kept for the Master’s Use (Guardado para o Uso do Mestre), no qual chamava os cristãos a viverem uma vida totalmente dedicada a Jesus Cristo.
Frances Ridley Havergal enfrentou muitas dificuldades, mas terminou bem a sua corrida. Eis o que essa precursora da fé provavelmente nos diria hoje:
4 encorajamentos para sustentar as desanimadas
- A Palavra de Deus e a oração são os marcos de um ministério sustentado por Deus.
O ministério só vai até certo ponto sem o poder do Senhor pulsando nele e através dele. Sem reconhecer sua verdadeira necessidade por meio da oração, seus esforços, sozinhos, não serão suficientes e acabarão fracassando com o tempo. Um ministério duradouro e poderoso está alicerçado na Palavra e é alimentado pela oração. Seu coração está firmemente ligado ao Senhor por meio da meditação constante repleta de oração na Palavra de Deus?
- Carregue sua cruz com determinação.
Carregar a sua cruz significa entender que o ministério não foi feito para ser fácil. As interrupções, os atrasos e os obstáculos são partes necessárias do plano de Deus. Uma serva fiel até o fim abraçará sua cruz para seguir Jesus aonde quer que Ele vá. Ela negará suas ambições carnais e abrirá mão de suas ideias pré-concebidas sobre como o ministério deveria ser. Há alguma cruz na sua vida à que você tem resistido a carregar?
- Busque conselhos de pessoas sábias.
Cerque-se de mulheres maduras que conhecem você bem e podem ajudá-la a discernir a direção do Senhor. Frances não desistiu quando foi desencorajada a continuar no ministério. Não ceda aos pessimistas que, ainda que bem-intencionados, falam o oposto do que Deus tem planejado. A que vozes você tem dado ouvidos?
- A entrega absoluta à vontade de Deus produz alegria e frutos.
Não importa para onde o ministério leve você ou o quanto ele se torne difícil — como Frances descobriu, é possível viver sob o sol do sorriso de Deus quando você está rendida e quebrantada diante dele. Não há posição mais doce do que pertencer inteiramente a Ele! Seu Pai quer tudo de você — não apenas as partes visíveis que você escolhe entregar. Não retenha nada de Deus, e você verá seu ministério marcado de forma inconfundível pela alegria, pela paz e pela abundância que vêm dele. Você já entregou tudo a Jesus? Há algo que ainda impeça você de dar esse passo?
Para sempre, somente, inteiramente Tua
Amiga, se você está se sentindo desanimada hoje, posso garantir: Deus lhe dará exatamente o que você precisa para terminar a corrida. No tempo certo, você começará a colher o que tem semeado. Permita que essas palavras de verdade penetrem em você como um soro que traz vida e força nova.
E não nos cansemos de fazer o bem, porque no tempo certo faremos a colheita, se não desanimarmos. (Gl 6.9)
Em vários momentos da vida de Frances Havergal, ela poderia ter desanimado e desistido. Mas não havia desculpas para essa dedicada serva de Deus. Ela perseverou apesar dos obstáculos e derrotas, e sua vida produziu o doce fruto de uma perseverança vitalícia. Com seu último suspiro, Frances terminou a corrida permanecendo fiel a Deus e descobriu que Ele valia cada sacrifício. Ela deu tudo o que tinha ao Senhor e nunca olhou para trás. Você também pode. Que as palavras de seu hino mais famoso encorajem você a seguir adiante:
Toma a minha vida, e eu serei
Para sempre, somente, inteiramente Tua
Para sempre, somente, inteiramente Tua5
Clique aqui para ler o original em inglês.
1WIERSBE, Warren W. 50 People Every Christian Should Know. Grand Rapids: Baker Books, 2009. p. 160.
2EDMAN, V. Raymond. They Found the Secret. Grand Rapids: Zondervan, 1984. p. 89–90.
3Idem, p. 90.
4Idem, p. 91.
5Tradução livre da seguinte estrofe do hino “Take My Life and Let It Be”:
Take myself, and I will be
ever, only, all for Thee,
ever, only, all for Thee.