Na semana passada, uma repórter me pediu para definir “complementarismo”. Ela não sabia o que significava — o que não é totalmente surpreendente.
A palavra “complementaridade” não aparece na Bíblia, mas é usada para resumir um conceito bíblico. É como a palavra “Trindade”. A Bíblia nunca usa a palavra “Trindade”. Mas é inegável que ela aponta para um Deus triúno: Pai, Filho e Espírito Santo.
Embora o conceito de complementaridade entre homem e mulher esteja presente desde Gênesis até Apocalipse, o termo “complementarista” só começou a ser usado há cerca de vinte e cinco anos. Ele foi criado por um grupo de estudiosos que se reuniu para encontrar uma palavra que descrevesse alguém que defende a ideia bíblica e histórica de que homem e mulher são iguais, mas diferentes. A necessidade de um termo assim surgiu em resposta à proposição de que igualdade significa intercambiabilidade de papéis (igualitarismo) — um conceito que foi inicialmente apresentado e popularizado nos círculos evangélicos nas décadas de 1970 e 1980 pelos chamados “feministas bíblicos”.
Ultimamente, tenho lido várias publicações na internet escritas por pessoas que entendem mal e/ou deturpam a visão complementarista. Há vinte e cinco anos, eu estava presente na reunião em que a palavra “complementarista” foi escolhida. Portanto, acredito que tenho uma boa compreensão do significado do termo.
Neste artigo, quero simplificá-lo para você. Inspirando-me na popular série de livros instrucionais “para Leigos”, vou apresentar a você um guia básico de “Complementarismo para Leigos” a respeito do significado pretendido do termo.
1. As origens do termo
A palavra “complementarista” é derivada da palavra “complemento”, definida pelo dicionário como:
“Aquilo que serve de complemento, que se deve acrescentar a algo para torná-lo completo. Cada uma de duas partes que se completam mutuamente para exercer uma função, para ter estabilidade etc.” (Aulete, 2025)
Os complementaristas acreditam que Deus criou homem e mulher como expressões complementares da imagem de Deus — homem e mulher refletem a Sua glória como opostos correspondentes. A existência de dois sexos amplia a perspectiva. Embora ambos carreguem a imagem de Deus plenamente de forma individual, cada um o faz de maneira única e distinta. Homem e mulher, ao se relacionarem, refletem verdades sobre Jesus que não são refletidas pelo homem sozinho ou pela mulher sozinha.
2. June Cleaver é tão anos 1950 e está muito longe de ser a definição de complementaridade
Na reunião em que o termo foi cunhado, alguém mencionou a palavra “tradicionalismo”, já que a nossa posição representa o que os cristãos têm tradicionalmente acreditado. Mas essa ideia foi rapidamente descartada. A palavra “tradicionalismo” remete à “tradição”. Os complementaristas acreditam que os princípios bíblicos se sobrepõem à tradição e podem ser aplicados em todas as épocas e culturas. June Cleaver é um estereótipo tradicional, norte-americano e televisivo. Ela NÃO é o ideal complementarista. Ponto final. (E ponto de exclamação!) A cultura mudou. A complementaridade de hoje é diferente da complementaridade de sessenta ou setenta anos atrás. Então, jogue fora esse molde estereotipado. Ele não se aplica à nossa vida.
3. Uma hierarquia do tipo proletariado-burguesia não tem nada a ver com complementaridade
Teóricos feministas afirmam que as diferenças de papéis entre homens e mulheres criam uma hierarquia de superioridade e inferioridade, na qual os homens, semelhantes à elite privilegiada de proprietários de terras franceses (burgueses) do século XVIII, mantêm as mulheres — comparáveis à classe trabalhadora desfavorecida (proletariado) — em posição de subserviência. Complementaristas não acreditam que os homens, como grupo, ocupem uma posição superior à das mulheres. Os homens não são superiores às mulheres — as mulheres não são o “segundo sexo”. Embora os homens tenham a responsabilidade de exercer liderança em seus lares e na família da igreja, Cristo revolucionou o significado disso. Autoridade não é o direito de mandar — é a responsabilidade de servir. Sendo assim, também rejeitamos o termo “hierarquismo” porque as pessoas o associam a um direito inerente e autoproclamado de governar.
4. A complementaridade não endossa a opressão patriarcal e social das mulheres
Tecnicamente, “patriarcado” significa simplesmente uma organização social em que o pai é a autoridade da família. Mas, desde a década de 1970, as feministas redefiniram o uso histórico do termo, atribuindo-lhe conotações negativas. Hoje em dia, as pessoas consideram o patriarcado como o governo opressor dos homens. “Patriarcado” é tido como um sistema misógino em que as mulheres são rebaixadas e silenciadas. É por isso que rejeitamos o termo “patriarcalismo”. Os complementaristas se posicionam contra a opressão das mulheres. Queremos ver as mulheres florescerem, e acreditamos que isso acontece quando homens e mulheres vivem de acordo com a Palavra de Deus.
5. Os complementaristas acreditam que Deus criou o homem e a mulher para refletirem verdades complementares sobre Jesus
Certo, agora que esclarecemos alguns equívocos e termos incorretos sobre o complementarismo, é hora de apresentar uma definição básica. Essencialmente, um complementarista é alguém que acredita que Deus criou o homem e a mulher para refletirem verdades complementares sobre Jesus — esse é o significado principal do termo.
Complementaristas acreditam que os homens foram criados para evidenciar a relação de Cristo com a igreja (e a relação do SENHOR Deus com Cristo) de uma maneira que as mulheres não podem, e que as mulheres foram criadas para evidenciar a relação da Igreja com Cristo (e a relação de Cristo com o SENHOR Deus) de uma maneira que os homens não podem. Quem somos como homem e mulher, em última análise, não se trata de nós — trata-se de testemunhar a história de Jesus. Não nos cabe definir o que a masculinidade ou a feminilidade significam. Nosso Criador é quem define. Essa é a base do complementarismo.
Se alguém lhe disser que complementaridade significa que você precisa se casar, dar à luz a uma dezenas de bebês, ser dona de casa em tempo integral, limpar banheiros, desistir completamente de ter uma carreira, jogar seu cérebro pela janela, tolerar abusos, ficar assistindo vídeos de receita, enterrar seus talentos, negar sua personalidade e concordar roboticamente com tudo o que os homens dizem — não acredite. Isso é uma deturpação, uma caricatura. Não é complementarismo.
Eu sei bem. Sou complementarista — e ajudei a cunhar o termo.
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