Antes de apontar o dedo, sinta o peso da pedra

Assim que os filhos do vizinho se viravam para ir embora da minha varanda, bati a porta com força e marchei até a cozinha rumo ao telefone.

“Mike?” — falei ao telefone, dois segundos depois. “Seus filhos acabaram de sair. Mas quero que saiba que eles não se desculparam. Eles alegaram que não atiraram no meu filho!”

Tudo bem, eram arminhas de airsoft e o meu filho de quatro anos não tinha nenhum vergão, mas mesmo assim — eu queria que o Mike ouvisse a profunda indignação no tom da minha voz. Ele respondeu calmamente que, sim, os seus filhos também tinham negado a acusação quando ele os questionou.

“Mas, Shannon” — ele argumentou — “É a palavra de um contra a do outro. Eu acredito nos meus meninos. Não acho que eles tenham atirado no seu filho.”

Inacreditável! Eu desabafei silenciosamente, depois de desligar o telefone. Meu filho, que ainda está na pré-escola, tinha sido exposto à linha de fogo sem óculos de proteção, e esse homem estava defendendo os atiradores?! Com firme determinação, chamei meus amados filhos para perto de mim e bradei novas ordens.

“Meninos, a partir de agora, quando os Garvers estiverem com as arminhas de airsoft, vocês devem voltar para casa imediatamente, entendido? Não dá para confiar naqueles meninos! Veja só, Cade, eles atiraram em você, não atiraram?!?”

Como esperado, Cade não assumiu a mesma postura de indignação da mãe. Em vez disso, ficou se mexendo, inquieto, de uma perna para a outra. Chupou os dedinhos e balbuciou: “Hmmm. . . É que. . .”

Cade!” — eu disse, surpresa. “Eles atiraram em você, não foi? Foi isso que você me contou. . .”

Talvez eu precisasse reavaliar em quem eu podia ou não confiar. À medida que a culpa no rosto do Cade ficava mais clara, crescia também o meu horror. Era eu que tinha feito os disparos — com as minhas próprias palavras!

Atirando a primeira pedra

A Palavra de Deus está repleta de advertências sobre a importância de apurar a história antes de lançarmos acusações. Na verdade, um dos Dez Mandamentos diz: “Não dê falso testemunho contra o seu próximo” (Dt 5.20).

Moisés retoma esse mandamento em Deuteronômio 17, ao dar instruções para o povo de Deus que está prestes a entrar na Terra Prometida. Ele descreve um cenário em que um israelita vê outro adorando um falso deus. Esse é era um crime punido com a pena de morte e exigia que a pessoa fosse apedrejada às portas da cidade. Mas essas medidas drásticas só deviam ser tomadas sob duas condições:

  1. A história devia ser confirmada por testemunhas adicionais (v. 6).
  2. As testemunhas deviam ser as primeiras a lançar as pedras (v. 7).

Há uma enorme diferença entre apontar o dedo e atirar uma pedra. Lá em casa, o apontar de dedos pode acontecer uma dúzia de vezes em um período de vinte e quatro horas. Mas pegar uma pedra e atirá-la na cabeça de alguém? Graças a Deus, posso dizer que isso nunca aconteceu aqui. No entanto, Deus claramente relacionou essas duas ações em Deuteronômio 17. Ele não queria que alguém apontasse o dedo a menos que estivesse disposto a pegar uma pedra na mão. Por quê? Porque Ele queria que o Seu povo entendesse a seriedade da responsabilidade de uma testemunha.

O peso da acusação

Um falso testemunho pode causar um estrago enorme. Conheço um homem temente a Deus que foi acusado injustamente de molestar algumas meninas. Ele havia gentilmente permitido que elas brincassem em sua propriedade, e elas usaram isso contra ele. Após meses de julgamento e milhares de dólares gastos em honorários advocatícios, esse homem foi declarado inocente. Não era a primeira vez que a mãe das meninas inventava uma história na tentativa de conseguir dinheiro. Mas dizer que o homem saiu ileso seria um erro. Ser falsamente acusado de algo tem um custo muito, muito alto.

Entre o povo de Deus não há espaço para acusações exageradas ou histórias maquiadas. Antes de apontarmos o dedo, devemos sentir o peso da pedra em nossa mão. Imagino que você e eu não apedrejaríamos alguém, mas será que lançamos palavras como se fossem pedras? Será que fazemos acusações pesadas de maneira leviana? Coisas do tipo:

  • “Meu marido é um idiota.”
  • “Confia em mim. Você não ia querer ela como sogra.”
  • “Olha só este quarto. Você é tão preguiçosa!”

Mateus 12.36 diz que um dia prestaremos contas a Deus por toda palavra inútil que proferirmos. Toda e qualquer palavra! Isso inclui as vezes em que descarreguei minha dor ou frustração em um familiar. Ou as vezes em que critiquei alguém da igreja — mesmo que só para o meu marido. Ou as vezes em que julguei autoridades, sem compreender a complexidade das suas decisões.

Deus se importa com cada uma dessas palavras vazias. Minha mão pode parecer leve ao apontar um dedo, mas Deus quer que eu sinta o peso da minha acusação.

Sentindo a gravidade

Naquele dia em que meu filho acusou falsamente os filhos do vizinho de terem atirado nele com arminhas de airsoft, eu nem sequer me preocupei em procurar testemunhas. Somente peguei o telefone e comecei a atirar pedras contra o caráter de meninos que não tinham feito nada de errado. Felizmente, o meu pequeno inventor de histórias não levou a mentira adiante.

Dez minutos depois, eu estava na varanda do vizinho tocando a campainha, ao lado do meu filho de olhos vermelhos. Em vez de indignada, eu agora estava horrorizada. Com um tom de profundo arrependimento, pedi desculpas ao pai. Depois foi a vez do meu filho. Insisti que ele pedisse que o perdoassem tanto o pai quanto os meninos que ele havia acusado falsamente.

Sem dúvida, teria sido mais fácil deixar meu filho ligar ou escrever uma carta de desculpas. Mais fácil ainda: poderia ter deixado que ele chorasse no meu ombro e ignorado o pedido de perdão. Mas eu queria que ele olhasse nos olhos das pessoas que havia magoado. Queria que ele sentisse a gravidade das suas palavras. Queria que ele compreendesse quanta dor havia causado ao dizer algo que não era verdade sobre os outros.

É assim que Deus, como nosso Pai, se sente em relação a nós. Ele quer que sintamos a gravidade das nossas palavras. Quando Ele diz: “Não dê falso testemunho contra o seu próximo”, não é porque Ele seja um Deus severo e cheio de regras. Deus nos ama! Ele não quer que nossos relacionamentos sejam constantemente bombardeados por palavras falsas e prejudiciais. Pelo contrário, Ele deseja que desfrutemos de harmonia e paz em nossos lares, vizinhanças e comunidades.

O que dizemos uns sobre os outros importa. Antes de apontarmos o dedo, sejamos pessoas que sentem o peso das nossas palavras.

Você é rápida em “atirar pedras”? Faça um balanço das suas palavras na última semana. Você exagerou ou maquiou as suas acusações contra os outros? Como você pode corrigir isso? Que passos você pode dar para começar a sentir o peso das suas palavras contra as pessoas?

Clique aqui para ler o original em inglês.

Sobre o Autor

Shannon Popkin

Shannon Popkin tem a alegria de compartilhar a vida com seu marido, Ken, e juntos assistirem a seus três filhos jovens se tornarem as pessoas incríveis que Deus os criou para ser. Através de palestras, dos livros que escreveu e do podcast do qual é apresentadora, Shannon convida as mulheres a beberem profundamente da Palavra de Deus e a viverem de acordo com ela. Ela é autora publicada e apresentadora do podcast Live Like It’s True, que busca ensinar seus ouvintes sobre a grande história da Bíblia, como vivê-la e como compartilhá-la.