A dança da complementaridade

Nota do editor: Frequentemente, há muitos equívocos quanto às visões de masculinidade e de feminilidade. De modo especial, os cristãos adotam uma de duas perspectivas: “igualdade de papéis” (igualitarismo) ou “distinção de papéis” (complementarismo). Neste artigo, Mary Kassian nos ajuda a entender que, no complementarismo, a presença de diferenças não significa que um gênero se beneficia enquanto o outro fica em desvantagem. Na verdade, quando o projeto de Deus é plenamente revelado, nada poderia estar mais distante da realidade.

A mutualidade é o cha-cha-cha da complementaridade

Você já viu um casal habilidoso dançando? Certa vez, tive a oportunidade de assistir a um espetáculo de dança de uma companhia profissional na Sydney Opera House, na Austrália. O homem e a mulher de cada um dos pares desempenhavam seu papel com perfeição. Eles faziam movimentos, giros e elevações complexos parecerem fáceis. Era de uma beleza de tirar o fôlego. Para mim, aquela apresentação no palco revelava a paixão, o mistério e o encanto da dança real entre os sexos. Fiquei absolutamente fascinada.

Quando meu marido, Brent, e eu começamos nossas aulas de dança, descobrimos como é difícil duas pessoas se moverem como se fossem uma só. Nossos primeiros esforços foram um desastre desajeitado e cômico. Pisamos nos dedões um do outro, batemos a cabeça (literal e figurativamente), puxamos em direções opostas e arruinamos completamente os passos e o ritmo. Foi doloroso e frustrante.

Mas, ao longo das semanas, sob a orientação dos nossos instrutores, fomos, aos poucos, aprendendo alguns passos básicos de dança. Brent aprendeu a conduzir. Eu aprendi a seguir. São os papéis complementares que sustentam a mutualidade e a unidade da dança. Esse é o paradoxo da dança. E esse também é o paradoxo da visão complementarista dos relacionamentos entre homem e mulher. O termo “complementarista” refere-se ao conceito bíblico de que Deus criou homens e mulheres iguais em essência, mas distintos (ou complementares) em seus papéis.

A complementaridade promove a mutualidade

A complementaridade promove a mutualidade em um nível muito mais profundo do que promove a igualdade absoluta. O dicionário define mutualidade como “a qualidade ou condição de reciprocidade”. Mutualidade simplesmente significa que uma interação é recíproca — cada parte dá e recebe algo da outra. Não é uma relação unilateral. Isso não quer dizer que as pessoas sejam iguais. Nem que dêem e recebam exatamente a mesma coisa. Nem que façam isso da mesma forma. A mutualidade não exige igualdade. Ela pode ocorrer entre pessoas que têm coisas diferentes a oferecer. Na verdade, a diferença cria um forte impulso para a reciprocidade. E, se essas diferenças se complementam, elas promovem, naturalmente, a mutualidade e a unidade.

Por exemplo, se eu tenho sorvete de baunilha e você também tem sorvete de baunilha, qual seria o sentido de compartilharmos? Mas, se eu tenho sorvete de baunilha e você tem granulados de chocolate, é bem provável que nos sintamos motivadas a compartilhar. Vamos unir nossos ingredientes e transformá-los em um delicioso sundae que ambas possamos saborear.

À imagem de Deus

Partes complementares, unidas como um todo mútuo e coeso, não se manifestam de forma mais evidente do que na própria natureza e caráter de Deus. O SENHOR Yahweh, a primeira Pessoa da Trindade, tem um papel e uma função diferentes dos do Senhor Jesus, a segunda Pessoa da Trindade. O SENHOR Yahweh envia, e o Senhor Jesus vai. Embora sejam iguais em essência, a responsabilidade de liderar repousa sobre os ombros do SENHOR Yahweh, enquanto a responsabilidade de responder recai sobre Cristo. Apesar de terem papéis complementares, o ensino claro da Bíblia é que nosso Deus é um só (veja Dt 6.4Jo 10.30). Existe uma profunda mutualidade e igualdade. A unidade e indivisibilidade da Trindade eclipsam as diferenças de papéis e funções de cada um dos membros, individualmente.

E assim também deve ser entre homem e mulher.

Homem e mulher foram criados à imagem de Deus para apontar um holofote sobre a natureza e o caráter de Deus e para contar a história de Jesus. Isso me leva a concluir que a complementaridade e a mutualidade podem — e, de fato, devem — estar evidentes na vida de homens e mulheres que foram redimidos. Além disso, me leva a concluir que a característica predominante e o foco dos relacionamentos cristãos entre homem e mulher devem ser a unidade. As diferenças complementares contribuem para esse objetivo, mas não o definem por completo. Esse é um ponto crucial que não podemos, em hipótese alguma, negligenciar.

Como uma bela dança

É como na analogia da dança.

Como Brent e eu somos amadores, nossos movimentos são mecânicos e desajeitados. Os esforços dele para conduzir e os meus para seguir são atrapalhados, muito evidentes e nem sempre eficazes. Mas isso não acontece com dançarinos experientes. À medida que abraçam seus papéis, aprendem a se mover juntos como uma unidade harmoniosa. Tornam-se cada vez mais naturais e espontâneos em cumprir sua parte. E, à medida que se tornam melhores dançarinos, suas responsabilidades complementares passam para o plano de fundo diante da beleza estonteante de sua dança. A mutualidade eclipsa a complementaridade. Os papéis ainda existem? Sim, sem dúvida. Mas, no fim das contas, eles não são o foco principal. O que importa é dançar um belo tango ou um vigoroso cha-cha-cha.

Como complementaristas, nunca devemos perder de vista o todo e nos apegar demais aos detalhes. Vamos errar se esquecermos por que Deus criou homens e mulheres como peças complementares. Não foi para que ficássemos obcecados por nossas diferenças ou pela divisão de responsabilidades e discutíssemos por causa delas, nem passássemos o tempo todo analisando minuciosamente cada passo. Pelo contrário, foi para que pudéssemos refletir a Sua glória, mostrando a unidade, a alegria e o puro encanto dessa dança.

Clique aqui para ler o original em inglês.

Sobre o Autor

Mary Kassian

Além de ser uma contribuidora frequente nos podcasts do Revive Our Hearts e nas conferências True Woman, Mary Kassian é uma autora premiada, palestrante de renome internacional e uma respeitável professora de estudos femininos no Southern Baptist Seminary. Ela escreveu mais de uma dúzia de livros e estudos bíblicos, incluindo Mulher: Sua Verdadeira Feminilidade – Design Divino e Mulher: Dez Elementos da Feminilidade – Design Interior, publicados no Brasil pela Shedd Publicações. Mary e seu marido, Brent, têm três filhos adultos e moram em Alberta, Canadá.

Um pouco mais:

Mary Kassian é uma autora premiada, palestrante popular e professora renomada de estudos sobre mulheres no The Southern Baptist Theological Seminary em Lousville, no Kentucky, Estados Unidos. Ela publicou vários livros, estudos bíblicos e vídeos, incluindo: Girls Gone Wise, In My Father’s House: Finding Your Heart’s True Home, Conversation Peace, Vertically Inclined e The Feminist Mistake (ainda não publicados no Brasil).

Ela se formou na Faculdade de Medicina de Reabilitação da University of Alberta, no Canadá, e estudou teologia sistemática em nível de doutorado. Lecionou em seminários em toda a América do Norte. Também é uma palestrante popular em conferências, ministrando para grupos de mulheres ao redor do mundo, e já foi entrevistada em diversos programas de rádio e televisão, incluindo Focus on the Family, Family Life Today e Marriage Uncensored.

Mary nasceu e foi criada em Edmonton, no Canadá. Ela e seu marido, Brent, têm três filhos adultos e uma nora. Mary dominou a arte de torcer, depois de passar inúmeras horas em pistas de patinação, quadras e campos — seu marido é capelão de uma equipe de futebol americano profissional, seus dois filhos mais velhos jogam hóquei no gelo e o mais novo joga vôlei. A família Kassian gosta de andar de bicicleta, fazer trilhas, praticar snorkel (quando conseguem encontrar água morna!), música, jogos de tabuleiro, montanhas, fogueiras e seus animais de estimação: Miss Kitty e o General Beau, um labrador preto.