A arma letal que todas nós usamos

Se você é fã de séries policiais como CSI e Sherlock Holmes, provavelmente está bem familiarizada com os vários métodos de assassinato. Enquanto os roteiristas dessas séries tentam se superar criando tramas, crimes e formas de homicídio novos, duvido que algum deles já tenha ousado escrever uma história sobre alguém que morreu puramente por causa de palavras que lhe foram ditas. Um tiro? Uma facada? Envenenamento? Explosão? Um incêndio criminoso? Claro. Mas palavras? Acho que não. No entanto, segundo Provérbios 18.21(NVI), nossas palavras têm o poder tanto de vida quanto de morte:

A língua tem poder sobre a vida e sobre a morte; os que gostam de usá-la comerão do seu fruto. 

Assim como certos medicamentos podem tanto curar quanto matar, nossas línguas carregam o mesmo potencial. Se fosse possível tirar a vida de alguém com minhas palavras, eu certamente já seria uma serial killer de primeira classe. Mas, embora (felizmente) ninguém tenha, literalmente, morrido por algo que eu tenha dito, isso não significa que eu não tenha causado morte.

A morte da identidade: palavras depreciativas

Como a mídia e o entretenimento frequentemente se valem de insultos e comentários depreciativos para conseguir risadas, seguidores, audiência e até votos, a fala desdenhosa se tornou onipresente em nossa sociedade.

Mas isso não significa que ela seja inofensiva.

Palavras que zombam de outra pessoa saem facilmente da nossa boca. Embora possamos dizê-las com um sorriso, pelo menos um pouco de verdade se esconde por trás do que falamos. Seja sobre as habilidades, a aparência, o desempenho, a educação, a profissão ou a moradia de alguém, fazemos piadas às custas dos outros. Embora eu reconheça que esse tipo de brincadeira pode ser feita e recebida de forma perfeitamente bem humorada e não causar qualquer dano, em outras ocasiões nos convencemos habilmente de que estamos falando de forma leve e inocente, enquanto, na verdade, estamos ferindo profundamente a outra pessoa.

Quem morre, nesse caso, é a identidade da outra pessoa. Sem perceber, acabamos servindo à máquina de propaganda do nosso inimigo, reforçando as mentiras que ele provavelmente já está dizendo àquela pessoa sobre quem ela é. Não podemos ser coniventes com essa conspiração. Somos chamadas a falar palavras que edificam, que transmitem graça e que sejam adequadas ao momento (Ef 4.29). Comentários depreciativos e desdenhosos não cumprem nenhuma dessas funções.

A morte da luz: palavras impuras

Você não precisa que eu lhe diga que falas impuras são abundantes em nossa sociedade. Não conseguimos escapar de insinuações, duplos sentidos, conversas e piadas sexualmente explícitas. Como esse tipo de linguagem permeia o ar que respiramos, ela facilmente escapa dos nossos próprios lábios. Estamos nos iludindo se achamos que a presença constante de linguagem carregada de teor sexual não influencia a nossa própria fala. Contudo, esse não é um problema novo. Paulo adverte os efésios sobre a mesma coisa:

Não usem linguagem grosseira, não digam coisas tolas nem indecentes, pois isso não convém; pelo contrário, digam palavras de ação de graças.

Fiquem sabendo disto: nenhuma pessoa imoral, impura ou avarenta — porque a avareza é idolatria — tem herança no Reino de Cristo e de Deus. (Efésios 5.4–5)

Paulo liga de forma contundente a fala obscena e as brincadeiras vulgares com a imoralidade, afirmando que nenhuma dessas atitudes é característica de um verdadeiro crente. Para louvor da magnífica graça de Deus, o poder do Evangelho e as profundezas da misericórdia do Salvador superam até mesmo nossas falhas nessa área. Contudo, o ponto é que, quando fazemos uso de linguagem vulgar, estamos falando palavras do reino da morte e apagando a luz do maravilhoso reino de Cristo.

A morte da alegria: palavras sarcásticas

Quando eu era adolescente, meu pai me disse que eu tinha uma “língua ácida”. Embora eu não soubesse o significado exato da palavra na época, entendi o que ele queria dizer. O dicionário Michaelis a define da seguinte forma: “que denota escárnio, zombaria; irônico, mordaz, sarcástico”. Basicamente, se a fala tivesse um sabor, a minha seria o vinagre. Embora eu espero ter crescido à semelhança de Cristo e ter deixado essa acidez no passado, o sarcasmo continua sendo uma língua que falo fluentemente.

Assim como outros tipos de humor, o sarcasmo pode ser tanto oferecido quanto recebido de forma divertida e inocente, sem causar mal a ninguém. No entanto, sei por experiência própria que o que eu acho que estou oferecendo como uma brincadeira muitas vezes é recebido com dor. O sarcasmo, assim como seu “primo” o ceticismo, pode sequestrar e matar a alegria do outro. O sarcasmo cáustico, em especial, corrói a alegria, a esperança e o amor.

Embora eu provavelmente sempre terei afinidade com o sarcasmo (não esqueçamos que ele também aparece nas Escrituras!), preciso reconhecer que o padrão da minha língua deve ser a graça. Como o sal que tempera a pipoca ou as batatas fritas, a graça deve permear cada palavra que eu disser (Cl 4.6).

A morte da integridade: palavras desonestas

Contar mentirinhas, meias verdades ou falsidades, omissões, dissimulações, engano — chame como quiser, mas mentir é algo abominável aos olhos de Deus (Pv 6.16–17). E isso faz todo o sentido, já que qualquer forma de engano compromete o próprio caráter de Deus. Paulo, em sua carta a Tito, afirma que Deus não pode mentir. O próprio Cristo declara que Ele é a verdade. Nosso inimigo, por outro lado, é o pai da mentira (João 8.44). Quando nossas palavras distorcem ou destroem a verdade, estamos seguindo os passos dele e falando palavras de morte.

Talvez você se orgulhe da sua sinceridade e já faça muito tempo desde que contou uma mentira descarada. O pai da mentira possui um arsenal cheio de truques para nos afastar da verdade. Aqui vão algumas formas sutis pelas quais a mentira pode ter se infiltrado no seu vocabulário:

  • Esconder seus verdadeiros sentimentos sobre uma situação.
  • Demonstrar aprovação a alguém ou algo que você, na verdade, não aprova.
  • Prometer algo que você não tem a intenção de cumprir.
  • Quebrar uma promessa que você realmente pretendia cumprir.
  • Usar a desculpa de estar doente para escapar de algo desagradável.
  • Concordar com o argumento de alguém, embora, no fundo, você discorde.
  • Usar, conscientemente, pronomes que não correspondem ao sexo biológico de uma pessoa.

Como discípulos de Cristo, somos chamados a falar a verdade em amor (Ef 4.15), assim como Ele, que habitou entre nós, cheio de graça e de verdade (João 1.14).

A morte de um sorriso: palavras ásperas

Estou escrevendo isso depois de ter encerrado minha participação como professora na EBF anual da minha igreja. Isso significa que, pelos últimos quatro dias, precisei arrumar meus filhos (e a mim mesma) para sair de casa muito mais cedo do que estamos acostumados. E, nesse processo de nos prepararmos para servir ao Senhor (em mais de uma ocasião), acabei lançando palavras ásperas contra meus filhos quando eles não agiram exatamente de acordo com o meu plano. Como resultado, vi os rostinhos deles se desfazerem em tristeza e lágrimas.

Palavras ásperas e rudes matam o espírito e o sorriso de alguém mais rápido do que uma virose repentina. Não é à toa que Provérbios compara esse tipo de fala a ser golpeado por uma espada. A cada granada de ira que lanço contra meus filhos ou meu marido, é como se eu cravasse minha espada verbal bem no coração deles — figurativamente falando.

Verdade seja dita: escrever este texto foi profundamente confrontador. Todos os tipos de palavras mortais descritos aqui partiram da minha própria luta com a minha língua. Por isso, preciso encerrar lembrando a mim mesma — e a você — do Evangelho. Embora minhas palavras frequentemente falhem em atingir o seu alvo, e eu muitas vezes derrame veneno sobre minha família, ainda assim posso ter esperança. Estou unida ao Verbo da Vida, Àquele que sempre falou com graça e verdade. Suas palavras compassivas e perfeitas foram creditadas à minha conta. Porque Jesus venceu a morte, Ele conquistou até mesmo o poder das minhas palavras ásperas, desonestas, sarcásticas e depreciativas. Ele pode vencer o pecado da minha língua perversa, ácida e venenosa. Sua misericórdia é maior.

Clique aqui para ler o original em inglês.

Sobre o Autor

Cindy Matson

Cindy Matson mora em uma pequena cidade no estado de Minnesota, EUA com o marido, o filho e a filha. Cindy gosta de ler livros, beber café e treinar basquete. Você pode ler mais reflexões dela sobre a Palavra de Deus em biblestudynerd.com.