O ácido que usávamos na aula de química do Ensino Médio queimava tudo o que tocava. Fez um buraco em um bloco de madeira, deixou traços profundos em uma bacia de metal e marcou permanentemente a superfície de uma mesa de plástico. Colocávamos óculos e luvas de proteção e usávamos béqueres especiais projetados para conter o líquido cáustico, mas ainda assim nos sentíamos hesitantes e temerosos. Os avisos do nosso professor incutiram em nós um medo saudável de nos machucarmos. Muitos preferiam não participar do experimento e nós, os demais, executávamos as etapas necessárias o mais rápido e cuidadosamente possível, aliviados quando conseguíamos nos livrar do fluido corrosivo.
Agora que saí da sala de aula e entrei no laboratório da vida, descobri que existe um paralelo entre a substância cáustica com a qual fazíamos experimentos na aula de química e o que os conselheiros bíblicos chamam de “espírito crítico”. Ele não vem com um rótulo de alerta, mas suas características são igualmente destrutivas.
Palavras críticas corroem almas sensíveis.
Mentes críticas deixam cicatrizes profundas em famílias, casamentos e amizades.
Corações críticos mancham o brilho e a beleza da fé, da esperança e do amor.
Um espírito crítico ameaça roubar a alegria de tudo o que não é perfeito e de todos que não atendem às suas expectativas. É uma fera inescrupulosa que devora com voracidade muitos esforços sinceros, gestos de amor ou boas ações.
À medida que vai envenenando todos os relacionamentos que toca, o padrão inatingível de um espírito crítico se torna pesado demais para suportar. Aqueles que se relacionam com alguém de espírito crítico estão sempre tentando e sempre fracassando. Chega a um ponto em que eles simplesmente param de tentar.
O caminho para abandonar o espírito crítico começa com o exame das raízes venenosas que sustentam a sua árvore.
A árvore do espírito crítico e suas raízes venenosas
Insegurança
Um espírito crítico se constrói destruindo os outros. Apontar as falhas, erros e defeitos dos outros pode fazer alguém se sentir presunçoso, inteligente, superior.
Ingratidão
Em vez de ser grato por cada presente, ação ou palavra gentil, o espírito crítico mede tudo contra um padrão de perfeição inalcançável e reclama e resmunga quando as pessoas não atingem esse padrão. Ele se queixa do que não tem, em vez de apreciar o que possui.
Egoísmo
O espírito crítico reside em pessoas que esperam e exigem ser servidas. Elas acreditam que suas necessidades devem ser atendidas primeiro, seus desejos devem ser satisfeitos num estalar de dedos e suas preferências devem ser honradas acima das preferências de todos os outros.
Felizmente, existe uma cura para o espírito crítico — embora o processo seja, frequentemente, lento e doloroso. Os hábitos de derrubar as pessoas em vez de edificá-las, de criticar em vez de elogiar e de resmungar em vez de ser grato são difíceis de mudar, mas não impossíveis. Lucas 1.37 nos assegura que nada é impossível para Deus.
Quatro passos para curar um espírito crítico
Se você ou alguém que você ama luta contra um espírito crítico, aqui estão quatro passos para banir este inimigo destrutivo:
1. Creia que você é valiosa e amada
Quando compreendemos plenamente que o amor de Deus não depende da nossa capacidade de conquistar o Seu favor, podemos parar de nos comparar e encontrar nosso valor e dignidade em Cristo. Reconhecer que todos nós somos obras em andamento nos dá liberdade para estender graça a nós mesmas e aos outros quando falhamos em satisfazer algum padrão imaginário.
2. Reconheça o seu pecado
Efésios 4.29 diz: “Não saia da boca de vocês nenhuma palavra suja, mas unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem”.
Ver nossa atitude destrutiva através dos olhos de Deus nos permite aplicar o princípio de 1 João 1.9: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”. Uma vez que confessamos e abandonamos esse espírito crítico, podemos reivindicar a vitória de Deus sobre ele.
3. Seja grata
Toda vez que você for tentada a murmurar, transforme a sua murmuração em gratidão. Em toda situação, sempre existe alguma coisa pela qual ser grata, mas precisamos treinar nossa percepção. À medida que a gratidão se tornar uma visita mais frequente em nossos corações e mentes, as emoções negativas não encontrarão lugar de repouso ali. Mais cedo ou mais tarde, a gratidão se instala permanentemente e a murmuração vai embora à procura de um novo lugar para morar.
4. Busque servir
Um coração altruísta pensa nos outros antes de si mesmo. Ele dá em vez de tomar. Ele serve em vez de exigir ser servido. Filipenses 2.3-4 nos dá um equilíbrio saudável: “(...) cada um [tenha] em vista [não] somente os seus próprios interesses, mas também os dos outros”.
O oposto de um espírito crítico é um espírito gracioso. Pessoas que possuem um espírito gracioso têm uma compreensão profunda da misericórdia e da bondade de Deus. Elas reconhecem prontamente sua própria necessidade de misericórdia e estão dispostas a estender essa mesma misericórdia aos outros, porque são gratas pela forma como Deus lidou com elas. Elas também têm plena consciência de que a maneira como tratam os outros determinará, em grande parte, como Deus lidará com elas.
Tiago 2.12-13 nos adverte: “Assim, falem e vivam como pessoas que serão julgadas pela lei da liberdade. Porque o juízo é sem misericórdia sobre quem não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo”.
Assim como eu tomava precauções para me proteger do ácido nas aulas de química do Ensino Médio, também quero proteger a mim mesma e os outros do poder destrutivo de um espírito cruel e crítico. Ao crer que sou valiosa e amada, ao reconhecer o espírito crítico como pecado, ao substituir a murmuração por gratidão e servir aos outros, posso me tornar alguém que derrama o óleo da graça sobre todos que encontro. Esse é o tipo de pessoa que eu quero ser.
E você?