
Dia 2: Phillis Wheatley Peters, uma poetisa inovadora com propósito
Raquel: Hoje, no Aviva Nossos Corações, a Dra. Karen Ellis nos apresentará à poetisa Phillis Wheatley.
Dra. Karen Ellis: Ao que tudo indicava, como mulher africana e escrava, Wheatley deveria ter permanecido calada no mundo pós-colonial que a cercava; no entanto, ela conseguiu a proeza de ser fundamental tanto na revolução temporal quanto na eterna. Isso é algo radical. Wheatley usou, de forma bíblica, a teologia que as pessoas lhe ofereceram para posicionar o espelho do Evangelho diante da face delas.
Raquel:Este é o Aviva Nossos Corações com Nancy DeMoss Wolgemuth, coautora de Deixe Deus escrever a sua história, na voz de Renata Santos.
Nancy DeMoss Wolgemuth: Durante esses primeiros dias de maio, estamos conhecendo algumas mulheres do passado que Deus usou de maneiras extraordinárias. Como vocês já sabem, sou apaixonada por biografias cristãs e as vidas dessas mulheres me inspiram, mas percebi que, à medida que aprendemos …
Raquel: Hoje, no Aviva Nossos Corações, a Dra. Karen Ellis nos apresentará à poetisa Phillis Wheatley.
Dra. Karen Ellis: Ao que tudo indicava, como mulher africana e escrava, Wheatley deveria ter permanecido calada no mundo pós-colonial que a cercava; no entanto, ela conseguiu a proeza de ser fundamental tanto na revolução temporal quanto na eterna. Isso é algo radical. Wheatley usou, de forma bíblica, a teologia que as pessoas lhe ofereceram para posicionar o espelho do Evangelho diante da face delas.
Raquel:Este é o Aviva Nossos Corações com Nancy DeMoss Wolgemuth, coautora de Deixe Deus escrever a sua história, na voz de Renata Santos.
Nancy DeMoss Wolgemuth: Durante esses primeiros dias de maio, estamos conhecendo algumas mulheres do passado que Deus usou de maneiras extraordinárias. Como vocês já sabem, sou apaixonada por biografias cristãs e as vidas dessas mulheres me inspiram, mas percebi que, à medida que aprendemos sobre elas, é fácil pensar: “Minha vida é tão comum — na verdade, mais do que comum! Não tem como Deus me usar para fazer uma diferença significativa na vida de outras pessoas”.
Enquanto nossa equipe preparava o episódio de hoje, me veio à mente aquela passagem em 1 Coríntios 1, que diz:
Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes.E Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são,a fim de que ninguém se glorie na presença de Deus. (vv. 27–29)
Deus escolhe e usa pessoas simples, comuns, que creem em um Deus extraordinário.
Na verdade, esta semana mesmo, eu estava lendo o livro de Hebreus. Cheguei ao capítulo 11, aquela passagem incrível que muitos chamam de “o hall da fé”. Ela está cheia de retratos de muitos dos nossos heróis da fé do Antigo Testamento. E digo mais uma vez, eles eram indivíduos muito comuns. Certamente, nenhum deles era perfeito. Alguns eram até malfeitores. Mas, ao final, eram todos homens e mulheres de fé. Eles confiaram em nosso grandioso Deus e, como resultado, Ele os usou de maneiras extraordinárias.
Esse é um lembrete da importância de olhar para o passado e encontrar inspiração nas pessoas que Deus usou para cumprir Seus propósitos no mundo. Mas, enquanto olhamos para uma lista impressionante como essa de Hebreus ou para algumas das mulheres que vamos conhecer nesta nova série do Aviva Nossos Corações, só quero nos lembrar de que existe Hebreus 12 após Hebreus 11.
Quando você vira a página da sua Bíblia e se depara com Hebreus 12, o foco que antes estava sobre as histórias de pessoas passa a estar sobre Aquele que escreve todas as histórias. Você se lembra do parágrafo inicial de Hebreus 12? Ele diz assim:
Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de todo peso e do pecado que tão firmemente se apega a nós e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus. (v. 1)
Conforme formos contando essas histórias, minha oração é que elas nos lembrem de que Jesus é o Herói supremo. É Ele que é digno de ser celebrado. É Ele que merece nossa atenção e adoração enquanto corremos a carreira de fé que nos está proposta.
Raquel:Que verdade preciosa, Nancy. Hoje, vamos ouvir a história de uma mulher que correu bem a carreira da fé, pois seus olhos estavam fixos em Jesus. Confesso que eu não a conhecia até recentemente.
Nancy: Eu também não, Dannah. Phillis Wheatley Peters não é tão conhecida, mas a Dra. Karen Ellis estará com a gente hoje para nos contar mais detalhes sobre essa história notável.
Raquel:A Dra. Ellis é professora no Reformed Theological Seminary em Atlanta, na Geórgia, Estados Unidos, e diretora do Edmiston Center, centro que se dedica a equipar cristãos para servir em contextos de diversidade étnica e cultural ao redor do mundo. Ela é apaixonada por teologia, direitos humanos e liberdade religiosa ao redor do mundo.
Nancy: Isso mesmo. Esses são apenas alguns dos itens do extenso currículo da Karen. Mas quero dizer algo de caráter mais pessoal: Karen é amiga deste ministério e uma amiga pessoal muito querida. Sempre que conseguimos nos conectar, me sinto intimamente desafiada pela sua profundidade espiritual, visão, amor por Cristo, sua compreensão dos tempos em que vivemos e capacidade de aplicar a Palavra às circunstâncias atuais. Inclusive, estamos planejando passar um dia juntas este ano, apenas para conversar, orar e nos encorajar.
Raquel:Aqui está a Dra. Karen Ellis, falando com um grupo de estudantes da Biola University, na Califórnia, sobre a vida de Phillis Wheatley Peters. Ela começa introduzindo o contexto da vida de Phillis, nas colônias americanas nos anos 1700, antes da Guerra de Independência norte-americana.
Karen:Agora, neste momento da história, ainda somos todos britânicos. Todos se lembram — os Estados Unidos ainda não existiam.
Eu quero mostrar para vocês uma comunidade idônea que seguia o Caminho. Ela girava em torno desta figura chamada Phillis Wheatley. Não sei se vocês já ouviram falar dela, mas ela é uma personagem histórica incrível de se estudar. Vamos observar não apenas ela, mas também a comunidade ao seu redor, porque lembrem-se, “Nenhum homem é uma ilha”. Nenhum homem, nenhuma mulher sobrevive sozinho.
Essas pessoas tinham sua ética, ou seja, como devemos obedecer a Deus e sua epistemologia, ou seja, o que sabemos sobre Deus. Neste “Novo Mundo”, a sua ética e epistemologia eram, realmente, coerentes entre si, em uma época em que a ética e a epistemologia de muitas pessoas que se diziam cristãs não estavam alinhadas.
Os direitos dos afro-americanos foram sendo cerceados ao longo de décadas, impulsionados por um engenho de desdém cultural. Muita gente não sabe disso, mas não fomos sempre escravos. Não viemos para cá como escravos necessariamente. Na América colonial, a escravidão baseada na cor não foi uma condição pré-definida. Muitas pessoas não sabem que os servos de origem africana que chegaram ao solo americano vieram em pé de igualdade com outros europeus em regime de servidão.
Mas, menos de cem anos mais tarde, os primeiros indivíduos a fazerem a viagem até a América mal reconheceriam suas terras. Eles assistiriam ao cerceamento gradual de todos os seus direitos — o direito à propriedade, o acesso à educação, à estabilidade familiar, à liberdade de se reunir, à liberdade de culto, entre outros. Tudo isso se deu em menos de sessenta anos.
Defino “marginalização” como “ser relegado a uma posição de insignificância, de importância rebaixada, de influência inferior ou poder reduzido”. No entanto, foiessa marginalização que proporcionou à igreja afro-americana uma força que sustentou cristãos durante séculos de hostilidade cultural.
O ostracismo e a demonização podem ser formas de escárnio para o resto da humanidade, mas, por algum motivo, quando se trata do povo de Deus, isso tem um efeito interessante e empoderador sobre o cristão marginalizado (e isso ao longo de toda história, não apenas no caso dessa comunidade em particular). De alguma forma, essa é uma situação que confere cores vívidas ao Evangelho e, com isso, as pessoas, além de ler o livro de Atos, começam a experimentá-lo.
A marginalização é uma morte cultural lenta e vagarosa. Você só percebe que está sangrando quando já é tarde demais. Geralmente, a marginalização sutil de comunidades cristãs não se transforma numa perseguição extrema da noite para o dia. Foi isso que aconteceu com os escravos africanos, os escravos cristãos africanos — a perseguição cresceu de forma bem lenta, a passinhos de formiga, mas eles podiam senti-la no ar.
Na Palavra de Deus, temos um conceito de escravidão bíblica, em que Deus regula o pecado. Ele sabe que o homem vai pecar, então assegura e preserva a humanidade do indivíduo escravizado. Mas o que temos na experiência americana é uma escravidão que olha para o escravizado como uma propriedade. É um regime de escravidão em que a humanidade é negada e destruída.
No livro de Filemon e de Timóteo, a Bíblia condena essa forma de escravidão e o sequestro. Na verdade, a escravião nas colônias norte-americanas foi uma degradação do sistema de servidão romana e veterotestamentária. Colocar esses dois regimes em pé de igualdade é, na verdade, suprimir a verdade por meio da injustiça, como está escrito em Romanos 1.
Após a Queda, a Bíblia nos apresenta as prescrições de Deus para a vida. Ele regula o pecado. Só porque a Bíblia relata a escravidão, não significa que Ele a endosse. Só porque Ele diz que essas coisas acontecem e regula a escravidão na Bíblia, não significa que Ele a endosse.
Ainda assim, mesmo quando a escravidão é regulada para que a imagem de Deus seja protegida, ela continua sendo inferior ao ideal de Deus. Não é o que foi planejado no Jardim. Quando Deus deu à humanidade domínio sobre as criaturas em Gênesis 1 e 2, a intenção nunca foi de que esse domínio fosse sobre outras pessoas.
O fundamento da escravidão nos Estados Unidos foi o racismo ontológico, o que, em sua essência, é pecado. Esse sistema elevava um povo acima de outro, atribuindo-lhe quase um status divino. Em suas cartas a Filemon e a Timóteo, Paulo não está endossando a escravidão. A prioridade principal nesse trecho de Filemom é a glória de Deus. Ele, de fato, implora que Filemom liberte Onésimo. Usar esse versículo para justificar a escravidão e não a liberdade é, na verdade, um uso indevido dessa passagem bíblica.
Precisamos entender que toda a metanarrativa bíblica, isto é, a grande história da Bíblia, não defende a escravidão como o ideal, mas, sim, a libertação da escravidão — tanto a espiritual quanto a física.
Com isso em mente, me permita pintar o cenário para vocês. Estamos no século XVIII. A única coisa que não posso comunicar enquanto descrevo essa história são os cheiros. Em 1721, um traficante de escravos chamado Platon Only solicitou que a Real Companhia Britânica da África capturasse 500 escravos pequenos, meninos e meninas, de seis a dez anos, para serem entregues anualmente a bordo do navio negreiro Kent. Essa foi a primeira vez que a legislação permitiu a captura e a venda de crianças africanas no Novo Mundo. A partir disso, ela permitiria que uma quantidade enorme de crianças fossem submetidas a essas condições.
Elas eram enfiadas nas áreas mais apertadas do porão dos navios negreiros como objetos acrescentados de última hora. Você já viu o corte longitudinal de um navio negreiro, com os corpos todos alinhados? Era uma jornada de três a seis meses, dependendo de como o vento soprava. Você ficava deitado de costas, se o navio estivesse com poucos escravos, ou seja, se não tivessem capturado muitos deles ou, se tivessem capturado um número suficiente, você ficaria deitado de lado. Sua cabeça ficava encostada nos pés de outra pessoa, a cabeça dela ficava encostada nos pés de outra e assim por diante.
Eles eram um povo da terra, nunca haviam estado na água antes, então ficavam enjoados. Eles urinavam e defecavam ali mesmo onde estavam. Devido ao balanço do navio, os dejetos se espalhavam, transmitindo pestilências entre os corpos.
Dessa pestilência, surge uma voz. Uma mulher chamada Phillis Wheatley, nascida em 1754. Ela tinha sete anos quando fez essa viagem, a qual se chamava “A Passagem do Meio”. Mais tarde, ela escreveu sobre sua experiência como cristã, como americana e como abolicionista. Quero apresentar a vocês Phillis e sua comunidade como um exemplo de uma expressão de outra realidade político-cultural do reino de Deus.
Ela ajudou as pessoas ao seu redor a reconciliar as inconsistências de indivíduos que diziam que o cristianismo favorecia aqueles que se pareciam consigo próprios. O exemplo de Cristo, na providência divina, deu a ela um consolo incrível. Sua pena e talento lhe deram uma coragem extraordinária e força para promover uma revolução que foi tanto temporal quanto eterna.
Deixe-me dar a vocês uma amostra da obra de Phillis Wheatley. Ela escreveu sobre sua experiência na travessia transatlântica com destino à América para o Conde de Dartmouth. Você já ouviu falar da Universidade de Dartmouth? Pois bem, esse é ele, antes da universidade existir. Ela escreveu para esse conde. Naquele ponto, ele era secretário de estado de Sua Majestade para toda a América do Norte. Ela escreveu as seguintes palavras:
Eu, jovem na vida, por sina cruel,
Fui arrancada do que se imaginava o feliz assento da África.
Quais dores excruciantes fustigaram,
Quais pesares sufocaram o peito de meus pais!
Endurecida era a alma, e insensível a toda miséria,
Que de um pai capturou seu querido bebê.
Tal, tal foi meu caso, posso então apenas orar
Para que outros nunca sintam o peso tirânico?
A genialidade de Wheatley se manifestou na mais tenra idade. Após ser sequestrada de Senegâmbia e fazer a viagem da África Ocidental à América aos sete anos, ela foi comprada em um leilão pela família Wheatley. Ela recebeu o nome do navio negreiro que a trouxe, Phillis.
Ao chegar, a filha dos Wheatley ensinou a ela o alfabeto. Ela foi treinada para ser uma doméstica. Em Senegal e na Gâmbia você podia encontrar tipos específicos de escravos. Os traficantes tinham mapeado a região toda, mostrando tipos diferentes de escravos que poderiam ser encontrados em diferentes localidades. Aqui, o processo de desumanização se evidenciava mais uma vez. É semelhante à forma como tratamos cachorros hoje em dia. . . Se você estivesse se referindo a um pastor alemão, por exemplo, diria “Este cachorro aqui é bom para trabalho policial”.
Pois então, Wheatley veio de Senegal e Gâmbia, regiões apropriadas para vários tipos de trabalho. Mas os cristãos Wheatley logo perceberam que ela deveria estar servindo com uma caneta na mão e não com uma vassoura. Não sabemos exatamente como ela recebeu sua educação, mas há evidências sólidas de que ela foi bem educada.
É muito possível que ela tenha recebido sua educação religiosa e teológica do clero da Nova Inglaterra. O fato de ser bem educada é mérito de seus donos, mesmo que tenham oferecido a ela liberdade educacional e espiritual, mas não física.
Veja, a legislação contra a educação de escravos ainda não havia chegado a Boston, mas era desestimulada. Era tida como impossível devido ao racismo ontológico, pois diziam: “Este grupo de pessoas não é tão humano, portanto não são tão inteligentes. Por que educá-los se não são inteligentes?”
E aqui está Phillis. Dezesseis meses após ser comprada, aos nove anos, ela já lia inglês fluentemente nas partes mais difíceis da Bíblia, tendo falado apenas Wolof, sua língua mãe, antes disso. Ela tinha uma constituição delicada, mas sua mente era forte. Além de ler textos sagrados em inglês, ela dominou grego e latim aos dez anos. (Lembre-se, acreditava-se que ela não era o tipo de pessoa que tivesse inteligência suficiente para fazer isso!)
Ela lia Ovídio e traduzia Virgílio para o inglês. Aos quatorze anos, ela já tinha sido catequizada pela igreja e publicado seu primeiro livro. Wheatley era uma mulher brilhante acorrentada.
Ela se converteu ao cristianismo aos dezesseis anos e se tornou membro da Old South Congregational Church em Boston sob a liderança do reverendo George Sewall. A tradição e os ensinamentos seguiam a linha das igrejas evangélicas e reformadas. Portanto, embora ela não fosse adepta de uma eclesiologia reformada, ela certamente adotou uma doutrina reformada.
Em 1773, sua primeira obra literária foi publicada na forma de um pequeno livro, com críticas mistas, e enviada para as novas colônias e para a Inglaterra.
Se você já ouviu falar do livro O Vale da Visão, você precisa adquirir o primeiro e único livro de poemas de Phillis Wheatley, Poems on Various Subjects, Religious and Moral (em português, Poemas acerca de vários temas, religiosos e morais). Foram seus donos que ajudaram a financiar sua publicação.
Lembrem-se de que, neste momento, os africanos eram considerados inferiores em inteligência. Ao ver uma mulher que havia escrito um grande volume de poesia e feito traduções, os homens da época diziam: “Isso é impossível!” Como prova de sua autoria, sua obra incluía um prefácio onde dezessete homens de Boston afirmavam que ela, de fato, havia escrito seus poemas.
Como isso aconteceu? Eles a fizeram traduzir do inglês para o latim, traduzir de volta do latim para o inglês; traduzir do inglês para o grego e do grego de volta para o inglês; e depois escrever poesia de improviso para eles. Uma vez comprovada a sua habilidade, eles endossaram seu livro.
Sua obra Poems on Various Subjects é uma conquista histórica nos Estados Unidos. Quando ela a publicou, se tornou a primeira mulher afro-americana e a primeira escrava dos Estados Unidos a publicar um livro de poesias, além de ser a terceira mulher americana a alcançar esse feito.
Mas sua obra não era composta apenas de poemas. Ela escrevia dois tipos de textos. Tinha seus trabalhos regionais, que hoje seriam seus blogs. Eles tratavam de questões locais e globais da época: A América será livre? A América se tornará uma nação? Devemos ser britânicos? Devemos ser outra coisa? O que acontecerá nas novas colônias?
Além desses, ela tinha seus trabalhos clássicos, baseados nas obras de outros autores, como Metamorfoses de Ovídio, Bucólicas e A Eneida de Virgílio, Ilíada de Homero e as Comédias de Terêncio.
Seu editor, Archibald Bell, a chamou de uma “mulher hábil”. Uma excelente empresária, ela, na verdade, segurou alguns de seus poemas para criar um conjunto de dois volumes. Ela lançou o primeiro livro, e todo mundo no Twitter ficou: “Uau! A Phillis Wheatley acabou de lançar um álbum!” Ao que ela respondeu, “Espere um minuto, pessoal, eu tenho mais!” E, em seguida, lançou um segundo volume.
Enquanto escrava, ela recebia metade dos lucros de suas obras publicadas e a família Wheatley recebia a outra metade.
Ela escrevia cartas para sua melhor amiga, também uma escrava letrada. Isso mostra que ela sabia que essa poderia ser sua via de acesso à liberdade. Isso também encorajou as pessoas em Londres a pressionarem a família Wheatley por sua alforria.
Quem eram seus maiores críticos? Aqueles que pensavam que ela, por ser de inteligência inferior, não podia escrever, não deveria escrever e não havia escrito. É triste dizer, mas seus maiores críticos foram Thomas Jefferson, John Locke e muitos outros pensadores iluministas. Ben Franklin também não era fã.
O trabalho de Wheatley segue o estilo da literatura inglesa das eras elisabetana e jacobina — se você é como eu, ama literatura! Por vezes, ela ecoa a arte do verso iâmbico e os padrões de Shakespeare, Ford, Aphra Behn e Davenant. Algumas de suas composições seguem o estilo romântico e outras vezes ela escreve como os gregos, nos moldes épicos de Homero.
Mas ela não foi apenas uma artista, ela também foi uma abolicionista. Ela apelava para as emoções de seus leitores, usando seu talento para demonstrar a humanidade compartilhada dos povos africanos e europeus. Ela junta isso a um argumento de superioridade moral dos africanos escravizados diante dos cristãos hipócritas. Ela toma o que a cultura considerava um defeito — sua bela pele escura, sua alteridade — e a vira de cabeça para baixo, transformando-a em uma virtude.
Ela, frequentemente, se identificava como “Etíope” em vez de negra ou africana a fim de assumir certa autoridade bíblica sobre seus leitores. Afinal, Moisés casou-se com uma etíope (Números 12.1). O Salmo 68.31 prevê que a Etiópia “[correrá] a estender mãos cheias para Deus”. Naquele período, o uso do termo era uma técnica muito comum entre autores de ascendência africana e cristãos engajados na obra do Reino. Esses eram contra-argumentos bíblicos à autodepreciação fomentada pela cultura da época.
Alguns dos temas encontrados em sua obra são: a revelação natural versus a revelação especial, um Deus Criador transcendente, que é não somente soberano sobre Sua criação, mas também benevolente e onipotente, apesar das circunstâncias da vida — autoridade bíblica. Wheatley é, claramente, teísta e rejeita o ateísmo e o deísmo.
A obra de Wheatley reflete os temas da redenção, da imagem de Deus, do pecado original, da depravação total e do sofrimento por causa da justiça. Ela deve ter ficado sabendo, por intermédio dos círculos abolicionistas de Boston, que cristãos na América pregavam que a Bíblia justificava a escravidão. Mas, tendo acesso à sua Bíblia em inglês e nas línguas originais, ela deve ter visto que isso era inconsistente com a história bíblica de “Eu serei seu Deus, vocês serão meu povo, e eu os congregarei de todas as nações” (Jr 32.38; Ez 36.24).
Ela deve ter visto que a escravidão era inconsistente com o Israel do Antigo Testamento tanto nas línguas originais quanto no inglês. Enquanto estava sentada nas vigas da seção de escravos da antiga Igreja Congregacional do sul de Boston ouvindo o reverendo Soule falar sobre libertação da tirania na Inglaterra, Wheatley deve ter pensado em liberdade para si mesma.
O que podemos aprender com essa comunidade idônea? Vou contar um pouco sobre alguns deles. O círculo de amigos de Phillis Wheatley era formado por africanos, nativos americanos e europeus — uma comunidade multiétnica, assim como a história do povo de Deus. O que eles podem nos ensinar hoje é como exercer influência quando não se tem autoridade.
Você se inscreveria num curso desses? Se eu pudesse ensinar uma única disciplina antes de morrer, minha escolha seria: como exercer influência sem autoridade.
O primeiro personagem desse universo é Ignatius Sancho, um africano. Ele foi compositor, ator e escritor. Era vizinho e amigo de Phillis Wheatley. Ele nasceu em 1729, em um navio negreiro. Pense bem nisso. Ele nasceu em 1729, em um navio negreiro. Isso significa que sua mãe estava grávida quando foi capturada e deu à luz em meio às pestilências que descrevi anteriormente.
Ele passou os dois primeiros anos de sua vida escravizado em Granada. Sua mãe morreu quando ele era muito jovem; seu pai tirou a própria vida para não ser escravizado. Quando ele tinha dois anos, seu proprietário o levou para a Inglaterra. Ele trabalhou como servo em Greenwich e depois para o Duque de Montagu. Autodidata, aprendeu a ler sozinho. Sancho falava sobre o comércio de escravos. Compôs música, escreveu poesia e peças de teatro e, em 1773, conquistou sua liberdade. Juntamente com a esposa, abriu uma mercearia em Westminster.
Sancho era muito conhecido na cidade. Sua casa se tornou um ponto de encontro para alguns dos escritores, artistas, atores e políticos mais famosos da época. Como um africano proprietário de sua casa e financeiramente independente, ele se tornou a primeira pessoa negra de origem africana a votar nas eleições parlamentares da Grã-Bretanha.
Após sua morte em 1780, suas cartas foram publicadas em um livro e ele escreveu muito sobre Phillis Wheatley. Ele foi, na verdade, um dos primeiros críticos de ascendência africana a elogiar Wheatley. Pelo que sabemos, ele foi a primeira pessoa a questionar as motivações da família Wheatley em possuí-la e ajudá-la a publicar seu livro.
Isto é o que ele disse em 1773:
Os poemas de Phillis fazem jus à natureza e fazem com que a arte, por si só, fique constrangida. Sua permanência enquanto escrava nada reflete da glória tampouco da generosidade de seu mestre, exceto as glórias da ignóbil vaidade de exercer seu abusivo poder sobre uma mente avivada pelos céus, um talento superior ao dele. A lista de nomes ilustres, titulados e eruditos que confirmam-na como verdadeira autora — que lástima! Isso tudo apenas mostra o quão vazias são as conquistas de riqueza e conhecimento sem generosidade, sentimento e humanidade. Todos esses indivíduos bons e importantes conhecem e talvez admiram — ou melhor: louvam o talento em cativeiro; mas, como os sacerdotes e levitas nos escritos sagrados, passam de largo, sem que nenhum bom samaritano se encontre entre eles.
O segundo personagem do universo de Wheatley foi Olaudah Equiano, nascido em 1745. Foi um ex-escravo africano, marinheiro e comerciante; escreveu uma autobiografia que retratava os horrores da escravidão e fez lobby no Parlamento em prol da abolição. Em sua biografia, ele registra que nasceu no que hoje conhecemos como a Nigéria. Equiano foi sequestrado e vendido como escravo ainda criança e sobreviveu à travessia do Atlântico a bordo de um navio negreiro rumo ao Novo Mundo. Depois de um curto período em Barbados, foi enviado para a Virgínia, onde trabalhou removendo ervas daninhas e recolhendo pedras.
Em 1757, foi comprado por um capitão naval por cerca de quarenta libras e deram-lhe o nome de Gustavus Vasta. Ele tinha cerca de doze anos quando chegou pela primeira vez à Inglaterra. Ele acabou sendo vendido repetidas vezes até conseguir comprar sua própria liberdade pelas mesmas quarenta libras.
Em seguida, ele chega a Londres e, em 1775, viaja para o Caribe e envolve-se na criação de uma nova colônia de plantações na costa da América Central, onde tenta fazer tudo que estava ao seu alcance para amenizar os horrores do comércio transatlântico de escravos.
Qual a conexão dele com Phillis Wheatley? Por um tempo, ele voltou para Londres a fim de trabalhar como servo, até conseguir um emprego no projeto de reassentamento de Serra Leoa, que foi criado para oferecer um lugar seguro para os escravos libertos viverem e trabalharem. Naquela época, a liberdade era algo instável. Você poderia ser vendido novamente como escravo ou, se fosse livre, poderia ser sequestrado e vendido como escravo.
Foi então que criaram o projeto de reassentamento de Serra Leoa. Equiano trabalhou com os “Filhos da África”, um grupo que lutava pela abolição por meio de discursos públicos, cartas e lobby no Parlamento. Eles estabeleceram o projeto de reassentamento de Serra Leoa e lá criaram uma missão para que, quando as pessoas se tornassem livres, pudessem se restabelecer no continente e estar protegidas de serem vendidas como escravas novamente.
Ele era amigo de Ottobah Cugoano, um ativista africano antiescravagista que foi sequestrado em 1770 e levado para as Índias Ocidentais. Ele passou quase um ano escravizado em Granada. Cugoano foi trazido para a Inglaterra em 1772 e logo se tornou líder da comunidade africana de Londres e de sua campanha abolicionista.
Cugoano publicou um livro. Os livros do século dezoito tinham títulos inacreditavelmente longos, tinham a extensão de um parágrafo. Mas o título do livro de Cugoano, traduzido para o português, dizia: Pensamentos e Sentimentos acerca do Maligno e Perverso Tráfico da Espécie Humana. Um título longo e bem descritivo. Ele escreveu o livro com Equiano e discorreu amplamente sobre o comércio de escravos em Granada, nas ilhas e na costa.
Ele argumentou de forma enfática que a escravidão era moralmente errada e usou a Bíblia como sua plataforma. Cugoano afirmava que todos os homens na Grã-Bretanha eram, de certa forma, responsáveis pela escravidão e que o país deveria servir de exemplo, sendo o primeiro a aboli-la. Ele disse: “Não é estranho pensar que aqueles que deveriam ser considerados os mais cultos e civilizados do mundo continuem a praticar um tráfico de tamanha crueldade, barbárie e injustiça, e julguem que a escravidão, o roubo e o assassinato não são crimes?”
Os livros de Cugoano, Wheatley e Equiano exerceram uma grande influência na opinião pública. A relação com Wheatley se dá em 1774, quando os três se encontram com Samson Occom, um pastor anglicano nativo-americano e Philip Quaque, o primeiro sacerdote anglicano de origem africana. Eles começam um trabalho no exterior, em Serra Leoa. Eles começam a financiar missões para Gana. Essa primeira atividade missionária afro-americana foi interrompida pela Guerra Revolucionária, mas é muito possível que tenha sido a primeira atividade missionária registrada com origem no litoral americano.
O que é digno de nota é que Wheatley apoiava o movimento abolicionista com sua caneta, mas o movimento cristão com o capital que ela obtinha. Veja, George Lyle foi para a Jamaica em 1782; Hudson Taylor chega à China anos depois. Wheatley, Occom, Quaque, Cugoano e Equiano começaram sua missão em 1774, anos antes dos outros.
Chegamos a 1775; as relações entre a Inglaterra e as colônias estavam tão ruins que todas as atividades missionárias foram suspensas. Eles mandaram todos de volta para casa, e Wheatley, nesse ponto, desenvolve pela primeira vez uma identidade cristã africana na América e se junta aos revolucionários.
Outro personagem importante — e o último dessa comunidade — é um homem chamado Granville Sharp, um europeu idôneo, servidor público, advogado e reformador político, que também era fluente em grego, hebraico e teologia. (Ah, o que seria do nosso sistema jurídico hoje se nossos advogados também fossem teólogos!)
Ele foi um dos doze homens que, em 1787, formaram a Sociedade para a Abolição do Comércio de Escravos, sendo o primeiro presidente dessa sociedade. Foi através dele que Phillis Wheatley começou a buscar sua liberdade.
A teologia de Sharp, em seus pareceres jurídicos, dizia o seguinte: “O glorioso sistema do evangelho destroi todo nacionalismo limitado e nos faz cidadãos do mundo, obrigando-nos a professar benevolência universal, mas, mais especialmente, como cristãos, somos obrigados a nos compadecer e assistir, ao máximo de nossa capacidade, as pessoas aflitas e cativas”.
Este europeu se tornou a principal defesa do povo africano em Londres e salvou muitos deles de serem enviados de volta à escravidão nas Índias Ocidentais; muitas vezes, às suas próprias custas.
Granville Sharp se junta a Phillis Wheatley, que agora é uma celebridade escravizada em Londres e no Novo Mundo. Ela faz uma espécie de turnê das colônias até a Inglaterra. Phillis, sendo a mulher inteligente que era, possivelmente com a ideia de se emancipar em mente, planeja a viagem e a família Wheatley a envia para lá com Granville Sharp.
O que Sharp fez foi criar uma lei, a Lei Mansfield-Somerset, a qual dizia que, se algum escravo conseguisse chegar à Inglaterra, ele poderia ser livre, mas teria que deixar toda sua vida na América para trás. Nesse ponto, Phillis decide negociar sua própria liberdade. Ela faz isso para poder desfrutar do seu direito de ir e vir, com toda a liberdade de uma cidadã norte-americana.
Neste momento, ela começa a escrever de forma mais ousada sobre a escravidão. Ela compara seu profundo anseio e tristeza pela perda de sua própria liberdade com sua travessia do Atlântico rumo à escravidão — um paralelo arriscado. Com a mira no coração dos principais líderes da América, ela começa a escrever para George Washington. Imagine isso. Uma mulher de cor no Novo Mundo, uma ex-escrava, uma pessoa que não deveria ter voz alguma, escrevendo para o então militar George Washington. Adivinha o que aconteceu? Ele respondeu e os dois começaram a trocar correspondência.
Havia entre os africanos da América uma ética de acesso à liberdade. Alguns cristãos escolhiam comprar sua liberdade. Ou aproveitavam-se da lei de Mansfield. Outros escolhiam aproveitar a oportunidade de escapar da escravidão por meio da fuga. Não posso culpá-los.
Wheatley escolheu comprar sua liberdade e sua emancipação lhe concedeu a maior liberdade de movimento. Ela fez com que sua alforria fosse registrada por escrito, a fim de sempre ter esse documento consigo. Em vez de buscar sua liberdade como uma concessão da família Wheatley, ela se empoderou e os coagiu a trocar uma promessa de liberdade por outra. Phillis fez uma espécie de seguro sobre seu próprio trabalho, garantindo que passaria a ser a proprietária de toda a sua produção intelectual, a qual nunca mais seria considerada propriedade dos Wheatley.
Ela deixou de ser escrava em 26 de julho de 1773 e retornou como mulher livre ainda naquele ano. Ela se referiu a 1773 como seu annus mirabilis, ou seja, seu ano milagroso. Liberdade, fama e esperança de uma fortuna vindoura. Infelizmente, agora, como mulher livre de ascendência africana em um mundo com poucas oportunidades econômicas abertas a ela, Phillis se encontrava em uma posição ainda mais vulnerável.
John e Susannah Wheatley permitiram que ela continuasse a viver com eles após sua alforria, mas agora ela se sustentava. John Wheatley falece e ela lamenta sua morte como a de um pai. Uau! Algo aconteceu na família Wheatley. Susannah morre em 1773 e Wheatley permanece em um lugar privilegiado junto ao restante da família Wheatley.
Isso, mais uma vez, destaca a diferença entre a escravidão baseada no conceito de propriedade e a escravidão bíblica. Agora ela está com os filhos dos Wheatley, os quais são da mesma idade que ela. O reverendo John e Mary Wheatley Lathrop estavam entre os refugiados que se mudaram de Boston para Providence durante a ocupação britânica de Boston, e Wheatley os acompanha. Por quê? Porque ela diz que eles compartilham os mesmos valores do Reino. O que aconteceu? Quais eram esses valores? Quais eram as preocupações e questões que controlavam e definiam sua vida, que, agora, ela diz compartilhar com eles?
O marido da filha dos Wheatley, o reverendo Lathrop, escreve: “Anseio pelo tempo em que a guerra e a escravidão chegarão ao fim; quando, não apenas todos os sectos*** do cristianismo, mas também judeus e gentios, todas as nações, ainda que de cores e circunstâncias diferentes, se abraçarão como irmãos, filhos de um Pai comum e membros de uma grande família; anseio pelo momento em que toda carne conhecerá o Senhor”.
Acho que o crescimento espiritual da família Wheatley seguiu o exemplo do livro de Filemom. Acho que eles passaram da religião de Caim para a verdadeira adoração, como a de Abel, e entraram na história do povo de Deus.
Agora Phillis era livre. Ela está ficando cada vez mais ousada, e enquanto ela está “blogando”, “tuitando”, fazendo suas “postagens no Facebook” e postando suas “fotos”, claro, os trolls aparecem. Um troll anônimo, um satirista, alegou que “mulheres que buscam interesses intelectuais, particularmente em público, são ou contrárias à natureza ou sexualmente pervertidas e lascivas”. Ele critica o trabalho de Wheatley repetidas vezes. Critica o trabalho de outras mulheres com quem ela escreve e difama seu caráter publicamente.
E Wheatley retruca da maneira mais bela possível. Ela diz: “Eu desafio esse temeroso e acovardado inimigo das poetisas modernas. Colocar-se-á em posição perigosa se algum dia vier à minha presença, pois não terei misericórdia alguma de um homem que se levantar contra mim neste quesito. Sou páreo para o pedante mais rígido da república das letras. Ele, sem dúvida, exibe sua crista com confiança, pois até agora não encontrou obstáculo à sua impertinência ao expor a parte frágil de nós, poetisas; mas eu o aconselharia a recuar a tempo e não se aprofundar demais em um assunto cujas profundezas sua limitada linha de entendimento jamais poderá sondar”. Falou e disse!
O período de 1776 a 1784 são de anos silenciosos. Não temos escritos dela nesse período, e acreditamos que isso seja devido à influência do casamento sobre sua liberdade.
Mas, ao olharmos para a história e para as pessoas que fizeram a jornada da religião de Caim, a qual exalta o eu acima do outro, para, por assim dizer, o culto de Abel e observamos o seu coração, precisamos nos fazer algumas perguntas.
Pergunta número 1: Quem eram os escravos e quem eram os indivíduos livres? Pergunta número 2: Quem eram os pregadores e quem eram os congregantes?
Wheatley se posiciona, tanto em vida quanto em morte, como uma revolucionária de destaque, uma testemunha verdadeira do verdadeiro Israel em meio a uma nação que parecia não entender nem a comunhão dos sofrimentos de Cristo nem Seu maior mandamento de “amar o próximo como a ti mesmo”. De um modo geral, a cultura da escravidão manuseava os escritos sagrados, as palavras de Deus, diariamente, mas parecia entender apenas sua forma, negando o poder transformador contido nelas.
Ao que tudo indicava, como mulher africana e escrava, Wheatley deveria ter permanecido calada no mundo pós-colonial que a cercava; no entanto, ela conseguiu a proeza de ser fundamental tanto na revolução temporal quanto na eterna. Isso é algo radical. Wheatley usou, de forma bíblica, a teologia que as pessoas lhe ofereceram para posicionar o espelho do Evangelho diante da face delas.
Isso é o significado de exercer influência quando você não tem autoridade. É assim que a igreja subterrânea funciona e existem histórias semelhantes por toda a história norte-americana — os esquecidos, os silenciados, os negligenciados. Mas eles estão aí para serem descobertos. Eu garimpei esses diamantes para dá-los a vocês, para incentivá-los a encontrar essas pessoas na história e aprender com elas, aprender com irmãos da igreja subterrânea espalhada pelo mundo, que estão seguindo a história do povo de Deus de forma mais fiel possível. Ninguém vai fazer isso perfeitamente. A perfeição só virá quando chegarmos à glória. Mas há alguns que chegaram mais perto disso do que outros. Encontre-os. Conte a história deles uns aos outros. Compartilhe suas histórias e entre na corrente você mesmo.
Raquel:Eu amei essa frase, “entre na corrente você mesmo”. Hoje, nós ouvimos a Dra. Karen Ellis nos contar sobre a vida incrível de Phillis Wheatley Peters, a poetisa que olhou para além dos rótulos que a sociedade impôs sobre ela e encontrou seu propósito último no Deus que a criou.
Nancy: Acho que uma lição para todas nós é reconhecer a beleza do que Deus pode fazer em e através de um indivíduo como Phillis, alguém que viveu sua vida para a glória dele, que soube administrar bem os dons e habilidades que Deus a deu e alguém que, frequentemente, nadava contra a corrente cultural.
Raquel:Como um salmão?
Nancy: Como você sabia que eu ia dizer isso?
Raquel:Bem, digamos que eu te conheço, Nancy.
Nancy: Sim. Na verdade, eu tenho um quadro de um salmão nadando contra a correnteza que um amigo desenhou para mim. Ele fica pendurado na parede do meu escritório. Porque eu sempre digo para as mulheres: “Precisamos estar dispostas a nadar contra a correnteza da cultura”. Precisamos nadar contra o que o mundo considera bom e certo, nadar na direção da Palavra de Deus, que acabará nos levando a nadar contra a correnteza, mas vale tanto a pena, como vimos na vida de Phillis Wheatley e na vida de Karen Ellis, que é outra mulher que está nadando contra a correnteza de formas que estão trazendo muita glória para Cristo.
Me sinto tão grata por vocês terem tido a oportunidade de ouvi-la hoje!
Raquel:Querida ouvinte, gostaríamos de reiterar que estamos disponibilizando o livreto digital Mulheres (In)comuns: Dez mulheres comuns que impactaram o seu mundo para Cristo. Nele, você encontrará biografias impressionantes de dez mulheres de Deus, acompanhadas de perguntas para reflexão que vão te desafiar a viver uma vida totalmente entregue a Cristo e Seus propósitos eternos.
Para adquirir o livreto digital, basta que você faça uma doação de qualquer valor ao Aviva Nossos Corações, acessando o link na transcrição deste episódio, que você pode encontrar no nosso site avivanossoscoracoes.com. Após realizar a sua doação, envie um email para contato@avivanossoscoracoes.com com o comprovante e informe que gostaria de receber o livreto.
Obrigada por nos acompanhar em mais um episódio da série Mulheres (In)comuns que fizeram a diferença para Deus.
O Aviva Nossos Corações é o ministério em língua portuguesa do Revive Our Hearts com Nancy DeMoss Wolgemuth, chamando as mulheres à liberdade, à plenitude e à abundância em Cristo.
Clique aqui para o original em inglês.